Santos Filipe e Tiago, apóstolos
Filipe era de Betsaida, como Pedro e André. Primeiro foi discípulo do Batista e depois seguiu Jesus, que o chamou para fazer parte dos Doze. Do relato da multiplicação dos pães pode-se concluir que estava encarregado dos víveres: é ele que calcula rapidamente o dinheiro necessário para aplacar a fome das pessoas reunidas em torno do Mestre. Intervém, junto com André, no caso dos peregrinos gregos, gentios piedosos que desejavam ver Jesus. É considerado pela tradição como o Evangelizador da Frígia (Ásia Menor), onde sofreu o martírio por crucifixão.
Tiago, parente do Senhor, é chamadoo Menor para distingui-lo do irmão de João. Foi o primeiro bispo de Jerusalém e desenvolveu uma intensa atividade evangelizadora entre os judeus dessa cidade. A tradição apresenta-o como um homem austero, exigente consigo mesmo e cheio de bondade para com os outros. Foi a “coluna da Igreja primitiva”, junto com Pedro e João. Morreu mártir em Jerusalém por volta do ano 62. É autor de uma das Epístolas Católicas.
I. ENTRE AQUELES GALILEUS que tiveram a felicidade de serem escolhidos por Jesus para fazerem parte do grupo mais íntimo que o acompanhava, encontram-se Filipe, filho de Alfeu, e Tiago o Menor.
Tiago nasceu em Caná da Galiléia, perto de Nazaré, e era parente do Senhor. O Evangelho não refere o momento em que Jesus o chamou. A Sagrada Escritura sublinha que Tiago veio a ocupar um lugar proeminente na Igreja de Jerusalém1. E teve o privilégio de que o Senhor ressuscitado lhe aparecesse pessoalmente, como lemos na primeira Leitura da Missa2.
Filipe era natural de Betsaida, a terra de Pedro e André3, uma pequena cidade próxima do lago de Genesaré. Muito provavelmente, já era amigo desses dois irmãos. Um dia, nas margens do Jordão, encontrou Jesus que, em companhia dos seus primeiros discípulos, se dirigia para a Galiléia. O Mestre disse-lhe: Segue-me4. Era o termo que Jesus empregava para chamar os seus discípulos, à semelhança do que faziam os rabinos com os seus seguidores. Filipe seguiu o Senhor imediatamente. E não demorou a fazer com que os seus amigos conhecessem também o Senhor. Filipe encontrou-se com Natanael e disse-lhe: Encontramos aquele de quem escreveram Moisés na Lei e os Profetas: Jesus de Nazaré, filho de José5. E como visse que o amigo duvidava, deu-lhe o maior argumento: Vem e vê. E Natanael foi, viu e permaneceu também com Cristo para sempre.
Jesus nunca decepciona. O apostolado consistirá sempre em levarmos à presença do Senhor os nossos parentes, amigos e conhecidos, em limparmos o caminho e retirarmos os obstáculos para que vejam Jesus, que nos chamou e que sabe penetrar na alma dos que dEle se aproximam, como aconteceu com Natanael. Este discípulo chegou a ser um dos Doze, apesar da aparente incredulidade inicial e da relutância em aceitar a mensagem do amigo: De Nazaré pode sair coisa que seja boa?, foi a sua resposta ao convite de Filipe. Quantas vezes não teremos dito também aos que queríamos aproximar de Deus: Vem e vê! E ninguém que se tenha aproximado de Jesus saiu decepcionado.
Hoje, Filipe e Tiago são nossos intercessores diante de Jesus. Pomos sob a proteção de ambos o apostolado que estamos realizando com os nossos amigos e parentes.
II. O EVANGELHO DA MISSA6 conta-nos que Jesus, durante a Última Ceia, comunicou aos seus discípulos que lhes estava reservado um lugar no Céu, para que estivessem eternamente com Ele, e que já conheciam o caminho… A conversa prolongou-se com as perguntas dos discípulos e as respostas do Mestre. Em certo momento, Filipe interveio com uma pergunta que todos devem ter achado insólita: Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta. E Jesus, num tom de censura carinhosa, respondeu-lhe: Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me conheces? Quem me viu, viu o Pai; como dizes: Mostra-nos o Pai?
Quantas vezes não terá tido Jesus que dirigir-nos a mesma censura que dirigiu a Filipe! Tantas vezes estive junto de ti e não o percebeste! E o Senhor poderia lembrar-nos uma ocasião e outra, circunstâncias difíceis em que talvez nos tenhamos sentido sozinhos e perdido a serenidade porque nos faltou o sentido da nossa filiação divina, da proximidade amorosa de Deus. Quanto bem não nos pode fazer hoje meditar na resposta de Jesus a este Apóstolo! Nele estamos representados todos nós.
Jesus revela o Pai; a Santíssima Humanidade de Cristo é o caminho para conhecermos e chegarmos ao trato íntimo com Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. Em Cristo temos a suprema revelação de Deus aos homens. “Ele, com a sua presença e manifestação, com as suas palavras e obras, sinais e milagres, e sobretudo com a sua Morte e gloriosa Ressurreição, com o envio do Espírito de Verdade, leva à plenitude toda a Revelação e a confirma com testemunho divino, isto é, que Deus está conosco para nos livrar das trevas do pecado e da morte, e para nos fazer ressuscitar para uma vida eterna”7. Ele preenche completamente a nossa vida. “Ele é suficiente para ti – afirma Santo Agostinho –; fora dEle, nenhuma coisa o é. Bem o sabia Filipe quando dizia: Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta”8. Vivemos com essa convicção?
III. NA PRIMEIRA LEITURA da Missa destes Apóstolos, lemos as palavras que São Paulo dirigiu aos primeiros cristãos de Corinto: Eu vos transmiti em primeiro lugar aquilo que eu mesmo recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, que foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e apareceu a Cefas…9
Paulo recebeu dos Apóstolos uma mensagem divina que por sua vez transmitiu aos que o seguiam. Foi o que fizeram também Filipe e Tiago, que deram a vida em testemunho dessa verdade. Como o Apóstolo das gentes, sabem muito bem qual deve ser o núcleo da sua pregação: Jesus Cristo, caminho para o Pai. É a Boa Nova que se transmite de geração em geração: Um dia transmite ao outro a mensagem, e uma noite sussurra-a a outra10, lemos no Salmo responsorial. Nós não temos coisas novas que dar a conhecer. É sempre a mesma Boa Nova: que Cristo morreu pelos nossos pecados…, que ressuscitou…, que vive ao nosso lado…, que nos ama como nunca ninguém será capaz de fazê-lo…, que nos destinou a uma eterna felicidade junto dEle…, a quem veremos cara a cara.
Este é o nosso apostolado: proclamar aos quatro ventos e de todas as maneiras possíveis a mesma doutrina que os Apóstolos pregavam: que Cristo vive e que só Ele pode saciar as ânsias da inteligência e do coração humano, que somente junto de Cristo se pode ser feliz, que Ele revela o Pai…
Os Apóstolos, como nós, depararam com dificuldades e obstáculos para estender o Reino de Cristo; mas não ficaram à espera de ocasiões propícias para fazê-lo, pois nesse caso não nos teria chegado provavelmente essa mensagem que dá sentido à nossa existência. É possível que, diante da falta de meios e da resistência das pessoas, os Apóstolos – e especialmente Filipe – recordassem aquele dia em que se tinham encontrado com o grande compromisso de alimentar uma multidão, sem terem provisões nem meios para adquiri-las11. Jesus viu aquela multidão que o seguia e disse a Filipe: Onde compraremos pão para dar de comer a estes? E Filipe fez os cálculos e respondeu ao Mestre: Duzentos denários de pão não seriam suficientes para que cada um comesse um pouco. Fez as contas, e os meios de que dispunham estavam muito longe de cobrir as necessidades.
Jesus sente-se comovido e, mais uma vez, enche-se de sentimentos de misericórdia perante aquela multidão tão necessitada de compreensão e alívio. Mas, além disso, quer que os seus discípulos não esqueçam que sempre o terão ao seu lado.Eu estarei convosco eternamente12, dirá no final da sua vida aqui na terra. Filipe, estou há tanto tempo convosco e ainda não me conheces?
Deus é a parcela indispensável com que devemos contar para fecharmos as nossas contas. Na nossa ação apostólica pessoal, temos de contar com os duzentos denários – os meios humanos, sempre insuficientes –, mas não devemos esquecer que Jesus está sempre ao nosso lado com o seu poder e a sua misericórdia. Agora também o temos bem junto de nós. Quanto maiores forem as nossas dificuldades pessoais, as nossas necessidades na atividade apostólica e as nossas preocupações com a educação e a formação religiosa dos filhos, maior será a ajuda que Jesus nos prestará. Não deixemos de recorrer a Ele.
A Virgem, nossa Mãe, pela sua poderosa intercessão diante de Deus, jamais deixa de facilitar-nos o caminho.
(1) Gal 1, 18-19; At 21, 15-18; Gal 2, 19; (2) 2 Cor 15, 7; (3) Jo 1, 44; (4) Jo 1, 43; (5) Jo 1, 45; (6) Jo 14, 6-14; (7) Conc. Vat. II, Const. Dei Verbum, 4; (8) Santo Agostinho, Sermão 334, 4; (9) 1 Cor 15, 3-5; (10) Sl 18, 3;Salmo responsorial da Missa de 3 de maio; (11) cfr. Jo 6, 4 e segs.; (12) cfr. Mt 28, 20.
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