A devoção dos cinco primeiros sábados do mês em honra à Virgem de Fátima

Em 1917, Nossa Senhora apareceu aos três pastorinhos de Fátima e, entre promessas e segredos, alguns revelados há pouco tempo, a Virgem prometeu a Lúcia que ela viveria muito tempo, a fim de propagar no mundo a devoção ao Seu Imaculado Coração.

De fato, no dia 10 de dezembro de 1925, Nossa Senhora apareceu à irmã Lúcia, junto com o menino Jesus, e ensinou-lhe a prática dos cinco primeiros sábados do mês em desagravo às ofensas cometidas contra a Sua dignidade.

Para entender por que se deve desagravar o Coração de Maria, é preciso entender que a gravidade de uma ofensa é proporcional à dignidade da pessoa que se ofende. Certos pecados são considerados muito mais graves, pois atingem pessoas que nos amam de forma especial e às quais devemos, portanto, uma honra maior. É o caso dos pecados cometidos contra os pais, que são proibidos pelo quarto mandamento: “Honrar pai e mãe”.

Se é grande a dignidade dos nossos pais terrestres, quanto maior é a dignidade da Virgem Maria, nossa Mãe celeste! Santo Tomás de Aquino chega a dizer que, bem “a beata Virgem, por ser a Mãe de Deus, tem uma certa dignidade infinita, proveniente do bem infinito, que é Deus” [1]. É assim porque Maria Santíssima está em uma ordem diferente daquela em que estão todas as outras criaturas. Nós, se na amizade com Deus, estamos na ordem da graça; os santos e os anjos estão na ordem da glória; a Virgem Maria, no entanto, está no mistério da “união hipostática”: tendo gerado a humanidade de Nosso Senhor, que é Deus, com razão ela é chamada Mãe de Deus, “habent quandam dignitatem infinitam – dignidade de certo modo infinita”. Por isso, quando se ofende a Nossa Senhora, cria-se uma imensa desordem no mundo, porque se deixa de reconhecer as maravilhas que Deus fez em Si [2].

Mas, por que cinco sábados em honra à Virgem de Fátima? Anos mais tarde, em 1930, a pedido de um de seus confessores, a irmã Lúcia explicou que são cinco os sábados desta devoção porque são também cinco as principais ofensas cometidas contra a dignidade de Nossa Senhora: primeiro, as cometidascontra a Sua Imaculada Conceição; segundo, as contra a Sua virgindade; terceiro, as contra a Sua maternidade divina; quarto, as ofensas de quem ensina crianças a desprezarem e terem ódio da Virgem; e, quinto, as ofensas feitas a ícones de Nossa Senhora.

Para reparar essas ofensas – que atingem a dignidade de certo modo infinita de Maria e a própria majestade de Deus –, no entanto, é necessária a ajuda divina. Por isso Nossa Senhora aparece à irmã Lúcia e lhe indica o que os homens devem fazer para desagravar o Seu Coração:

Olha, minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todos os momentos Me cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que todos aqueles que durante 5 meses, ao 1.º sábado, se confessarem, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia meditando nos 15 mistérios do Rosário, com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes, na hora da morte, com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas.” [3]

Em outra ocasião, a irmã Lúcia:

“Apresentou a Jesus a dificuldade que tinham algumas almas em se confessar ao sábado e pediu para ser válida a confissão de 8 dias. Jesus respondeu:”
“- Sim, pode ser de muitos mais ainda, contanto que, quando Me receberem, estejam em graça e que tenham a intenção de desagravar o Imaculado Coração de Maria.”
“Ela perguntou:”
“- Meu Jesus, as que se esquecerem de formar essa intenção?”
“Jesus respondeu:”
“- Podem formá-la na outra confissão seguinte, aproveitando a 1.ª ocasião que tiverem de se confessar.” [4]

A Virgem Santíssima pede à humanidade este ato de desagravo pois sabe o mal que é causado no mundo quando se ofende o Seu Imaculado Coração. Tem consciência, ao mesmo tempo, do imenso bem que recebem as almas que prestam a devida veneração a Si, de tal modo que, assim como o quarto mandamento é acompanhado da promessa de longevidade – “Honra teu pai e tua mãe para que teus dias se prolonguem sobre a terra que te dá o Senhor, teu Deus” [5] –, a honra à Mãe de Deus, muito mais que a prosperidade terrena, alcança a salvação eterna.

Como praticar a devoção dos cinco primeiros sábados?

Para realizar perfeitamente a devoção reparadora ao Imaculado Coração de Maria, – nos cinco primeiros sábados de cinco meses seguidos, na intenção geral de reparar nossos próprios pecados e os de toda a humanidade contra Nossa Senhora – devemos fazer quatro atos de piedade:

1 – O sacramento da Confissão ou Penitência: devemos nos confessar no primeiro sábado do mês ou antes, ainda que oito dias ou mais antes, se for impossível ou muito difícil se confessar no dia. Pode-se também confessar na semana seguinte ao primeiro sábado. Todavia, lembramos que é necessário estar em estado de graça no primeiro sábado do mês, a fim de comungar nesse dia. Na Confissão, é indispensável a intenção de reparar o Imaculado Coração de Maria. Esta intenção reparadora não precisa ser dita ao confessor, mas apenas colocada mentalmente diante de Deus antes da Confissão. Sem essa intenção, a devoção reparadora não estará completa. Por isso, se esquecermos da intenção reparadora, podemos colocar essa intenção na Confissão seguinte, segundo disse Jesus Cristo a Irmã Lúcia, aproveitando a primeira ocasião que tivermos para nos confessar;

2 – O Terço Mariano: devemos rezar a tradicional oração mariana do Terço nos cinco primeiros sábados do mês, durante cinco meses seguidos. O Terço também deve ser rezado na intenção da reparação do Imaculado Coração de Maria;

3 – Os 15 minutos de meditação sobre os mistérios do Rosário: Nossa Senhora pediu que, no primeiro sábado do mês, fizéssemos companhia a ela durante pelo menos 15 minutos, meditando sobre os 15 mistérios do Santo Rosário, na intenção da reparação das ofensas cometidas contra o seu Imaculado Coração. No entanto, não precisamos meditar sobre todos os 15 mistérios. Podemos meditar apenas um, dois, três ou mais mistérios, conforme a nossa escolha pessoal. Também é possível meditar os mistérios do Rosário conforme o tempo Litúrgico. No tempo do Advento, podemos meditar os mistérios Gozosos; no tempo da Quaresma, os mistérios Dolorosos; no tempo Pascal, os mistérios Gloriosos; no tempo Comum, podemos meditar mistérios Luminosos ou aqueles que mais dizem respeito à Liturgia do dia ou do domingo;

4 – A Eucaristia ou Sagrada Comunhão: a comunhão eucarística é o ato essencial desta devoção reparadora. Para compreender bem a sua importância, recordemo-nos da comunhão nas nove primeiras sextas-feiras, em reparação das ofensas cometidas contra o Sagrado Coração de Jesus. Além disso, lembremo-nos da comunhão milagrosa, dada aos três Pastorinhos no outono de 1916, de caráter eminentemente reparador. Esse caráter reparador, evidencia-se nas orações ensinadas aos Pastorinhos pelo Anjo da Guarda de Portugal:

Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-vos. Peço-vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam.

Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores[3].

Como nas outras práticas desta devoção, na comunhão dos cinco primeiros sábados também é indispensável a intenção de reparar as ofensas cometidas contra o Imaculado Coração de Maria.

Caso não seja possível no primeiro sábado do mês, todas as práticas desta devoção reparadora podem também ser feitas no domingo que se segue, desde que seja por motivos justos e o devoto tenha a autorização de um Padre.

Referências

  1. Suma Teológica, I, q. 25, a. 6, ad 4
  2. Cf. Lc 1, 48-49
  3. Memórias da Irmã Lúcia, p. 192
  4. Ibidem, p. 193
  5. Ex 20, 12

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