30 de Setembro de 2020

26a semana comum Quarta-feira

- por Pe. Alexandre

QUARTA FEIRA – SÃO JERÔNIMO PRESBÍTERO E DOUTOR
(branco, pref. comum ou dos pastores – ofício da memória)

 

Antífona da entrada

– Que as palavras da Escritura estejam sempre em teus lábios, para que, meditando-as dia e noite, te esforce para realizar tudo aquilo que ensinam, e terá sentido e valor a tua vida (Js 1,8).

 

Oração do dia

– Ó Deus, que destes ao presbítero são Jerônimo profundo amor pela Sagrada Escritura, concedei ao vosso povo alimentar-se cada vez mais da vossa palavra e nela encontrar a fonte da vida. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

1ª Leitura: Jô 9,1-12.14-16

– Leitura do livro de Jó: 1Jó respondeu a seus amigos e disse: 2“Sei muito bem que é assim: como poderia o homem ser justo diante de Deus? 3Se quisesse disputar com ele, entre mil razões não haverá uma para rebatê-lo. 4Ele é sábio de coração e poderoso em força; quem poderia enfrentá-lo e ficar ileso? 5Ele desloca as montanhas, sem que elas percebam e as derruba em sua cólera. 6Ele abala a terra em suas bases e suas colunas vacilam. 7Ele manda ao sol que não brilhe e guarda escondidas as estrelas. 8Sozinho desdobra os céus, e caminha sobre as ondas do mar. 9Criou a Ursa e o Órion, as Plêiades e as constelações do Sul. 10Faz prodígios insondáveis, maravilhas sem conta. 11Se passa junto de mim, não o vejo, e quando se afasta, não o percebo. 12Se ele apanha uma presa, quem ousa impedi-lo? Quem pode dizer-lhe: — ‘Que está fazendo?’ 14Quem sou eu para replicar-lhe, e contra ele escolher meus argumentos? 15Ainda que eu tivesse razão, não poderia replicar, e deveria pedir misericórdia ao meu juiz. 16Se eu clamasse e ele me respondesse, não creio que daria atenção à minha voz”.

– Palavra do Senhor.

– Graças a Deus.

 

Salmo Responsorial: Sl 88,10bc-11.12-13.14-15 (R: 3a)

 

– Chegue a minha oração até a vossa presença!

R: Chegue a minha oração até a vossa presença!

 

Clamo a vós, ó Senhor sem cessar, todo o dia, minhas mãos para vós se levantam em prece.Para os mortos, acaso, faríeis milagres? poderiam as sombras erguer-se e louvar-vos?

R: Chegue a minha oração até a vossa presença!

 

– No sepulcro haverá quem vos cante o amor e proclame entre os mortos a vossa verdade? Vossas obras serão conhecidas nas trevas, vossa graça, no reino onde tudo se esquece?

R: Chegue a minha oração até a vossa presença!

 

– Quanto a mim, ó Senhor, clamo a vós na aflição, minha prece se eleva até vós desde a aurora.Por que vós, ó Senhor, rejeitais a Minh ‘alma? E por que escondeis vossa face de mim?

R: Chegue a minha oração até a vossa presença!

 

Aclamação ao santo Evangelho

 

Aleluia, aleluia, aleluia.

Aleluia, aleluia, aleluia.

 

– Em tudo considero como perda e como lixo a fim de ganhar Cristo e ser achado nele! (Fl 3,8s).

 

Aleluia, aleluia, aleluia.

 

Evangelho de Jesus Cristo, segundo Lucas: Lc 9,57-62

 

– O Senhor esteja convosco.

– Ele está no meio de nós.

– Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo † segundo Lucas.

– Glória a vós, Senhor!   

 

– Naquele tempo, 57enquanto Jesus e seus discípulos caminhavam, alguém na estrada disse a Jesus: “Eu te seguirei para onde quer que fores”. 58Jesus lhe respondeu: “As raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça”. 59Jesus disse a outro: “Segue-me”. Este respondeu: “Deixa-me primeiro ir enterrar meu pai”. 60Jesus respondeu: “Deixa que os mortos enterrem os seus mortos; mas tu, vai anunciar o Reino de Deus”. 61Um outro ainda lhe disse: “Eu te seguirei, Senhor, mas deixa-me primeiro despedir-me dos meus familiares”. 62Jesus, porém, respondeu-lhe: “Quem põe a mão no arado e olha para trás não está apto para o Reino de Deus”.

 

– Palavra da salvação.

– Glória a vós, Senhor!   

 

São Jerônimo

- por Pe. Alexandre

Neste último dia do mês da Bíblia, celebramos a memória do grande “tradutor e exegeta das Sagradas Escrituras”: São Jerônimo, presbítero e doutor da Igreja. Ele nasceu na Dalmácia em 340, e ficou conhecido como escritor, filósofo, teólogo, retórico, gramático, dialético, historiador, exegeta e doutor da Igreja. É de São Jerônimo a célebre frase: “Ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo”.

Com posse da herança dos pais, foi realizar sua vocação de ardoroso estudioso em Roma. Estando na “Cidade Eterna”, Jerônimo aproveitou para visitar as Catacumbas, onde contemplava as capelas e se esforçava para decifrar os escritos nos túmulos dos mártires. Nessa cidade, ele teve um sonho que foi determinante para sua conversão: neste sonho, ele se apresentava como cristão e era repreendido pelo próprio Cristo por estar faltando com a verdade (pois ainda não havia abraçado as Sagradas Escrituras, mas somente escritos pagãos). No fim da permanência em Roma, ele foi batizado.

Após isso, iniciou os estudos teológicos e decidiu lançar-se numa peregrinação à Terra Santa, mas uma prolongada doença obrigou-o a permanecer em Antioquia. Enfastiado do mundo e desejoso de quietude e penitência, retirou-se para o deserto de Cálcida, com o propósito de seguir na vida eremítica. Ordenado sacerdote em 379, retirou-se para estudar, a fim de responder com a ajuda da literatura às necessidades da época. Tendo estudado as línguas originais para melhor compreender as Escrituras, Jerônimo pôde, a pedido do Papa Dâmaso, traduzir com precisão a Bíblia para o latim (língua oficial da Igreja na época). Esta tradução recebeu o nome de Vulgata. Assim, com alegria, dedicação sem igual e prazer se empenhou para enriquecer a Igreja universal.

Saiu de Roma e foi viver definitivamente em Belém no ano de 386, onde permaneceu como monge penitente e estudioso, continuando as traduções bíblicas, até falecer em 420, aos 30 de setembro com, praticamente, 80 anos de idade. A Igreja declarou-o padroeiro de todos os que se dedicam ao estudo da Bíblia e fixou o “Dia da Bíblia” no mês do seu aniversário de morte, ou ainda, dia da posse da grande promessa bíblica: a Vida Eterna.

São Jerônimo, rogai por nós!

Meditação

- por Pe. Alexandre

24. PARA SEGUIR O SENHOR

– Desprendimento necessário para seguir o Senhor. Os bens materiais são apenas meios. Aprender a viver a pobreza cristã.

– Conseqüências da pobreza: o uso do dinheiro, evitar os gastos desnecessários, o luxo, o capricho…

– Outras manifestações da pobreza cristã: rejeitar o supérfluo, as falsas necessidades… Enfrentar com alegria a escassez e a necessidade.

I. RELATA O EVANGELHO da Missa1 que Jesus se dispunha a passar para a outra margem do lago quando se aproximou dEle um escriba que queria segui-lo: Seguir-te-ei para onde quer que vás, diz-lhe. Jesus expõe-lhe em breves palavras o panorama que o espera: a renúncia ao conforto pessoal, o desprendimento das coisas, uma disponibilidade completa ao querer divino: As raposas têm as suas covas e as aves do céu os seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça.

Jesus pede aos seus discípulos, a todos, um desprendimento habitual: a atitude firme de estar por cima das coisas que necessariamente se têm de usar. Para nós, que fomos chamados a seguir o Senhor sem sair do mundo, manter o coração desprendido dos bens materiais, sem deixar de usar o necessário, requer uma atenção constante, sobretudo numa época em que parece imperar o desejo de possuir e saborear tudo o que agrada aos sentidos e em que, para muitos – dá essa impressão –, esse é o principal fim da vida2. Viver a pobreza que Cristo nos pede requer uma grande delicadeza interior: nos desejos, no pensamento, na imaginação; exige que se viva com o mesmo espírito do Senhor3.

Uma das primeiras manifestações da pobreza evangélica é utilizar os bens como meios4, não como fins em si mesmos. As coisas materiais são bens unicamente quando se utilizam para um fim superior: sustentar a família, educar os filhos, adquirir uma maior cultura em benefício da sociedade, ajudar as obras de apostolado e os que passam privações…

Mas isto não é fácil de viver na prática, porque o homem tende a deixar que o coração se apegue sem medida nem temperança aos meios materiais. É necessário aprender na vida real como temos de comportar-nos para não cair nesses duros laços que impedem de subir até o Senhor. E isto tanto no caso de possuirmos muitos bens como de não possuirmos nenhum, pois a pobreza não se confunde com o não ter: “A pobreza que Jesus declarou bem-aventurada é aquela que é feita de desapego, de confiança em Deus, de sobriedade e disposição de compartilhar”5. Esta é a pobreza daqueles que devem viver e santificar-se no meio do mundo.

O próprio São Paulo nos diz que teve de enfrentar essa aprendizagem para chegar a viver desprendido em todas as circunstâncias: Aprendi a viver na pobreza – diz aos cristãos de Filipos –; aprendi a viver na abundância […]. Estou acostumado a tudo: à fartura e à escassez; à riqueza e à pobreza. Tudo posso naquele que me conforta6. A sua segurança e a sua confiança estavam postas em Deus.

II. NÃO PODEMOS DEIXAR de contemplar a figura de Cristo, que não tinha onde reclinar a cabeça…, porque, se queremos segui-lo, temos de imitá-lo. Ainda que tenhamos de utilizar meios materiais para cumprir a nossa missão no mundo, o nosso coração tem de estar como o do Senhor: livre de laços.

A verdadeira pobreza cristã é incompatível não só com a ambição de bens supérfluos, mas também com a inquieta preocupação pelos necessários. Se alguém que quisesse seguir o Senhor de perto viesse a afligir-se e a perder a paz por causa das preocupações econômicas, isso indicaria que a sua vida interior se estava enchendo de tibieza e que estaria tentando servir a dois senhores7. Pelo contrário, a aceitação das privações e das incomodidades que a pobreza traz consigo é algo que une estreitamente a Jesus Cristo, e é sinal de predileção da parte do Senhor, que deseja o bem para todos, mas de modo especial para aqueles que o seguem.

Um aspecto da pobreza cristã é o que se refere ao uso do dinheiro. Há coisas que são objetivamente luxuosas e que não condizem com um discípulo de Cristo, mesmo que sejam normais no meio em que ele se desenvolve. São objetos, viagens ao estrangeiro, restaurantes requintados, roupas caras… que não devem figurar nos gastos nem no uso de quem deseja ter por Mestre Aquele que não tinha onde reclinar a cabeça. Prescindir dessas comodidades ou luxos é coisa que talvez venha a chocar as pessoas do nosso ambiente, mas pode ser, em não poucas ocasiões, o meio de que o Senhor queira servir-se para que muitas delas se sintam movidas a sair do seu aburguesamento.

Os gastos motivados pelo capricho são, por outro lado, o que há de mais oposto ao espírito de mortificação, ao sincero anelo de imitar Jesus. É lógico pensar que também não teria o espírito de Cristo quem se deixasse levar por esses desejos pela simples razão de que quem os paga é o Estado, a empresa ou um familiar… O coração ficaria ao nível da terra, impossibilitado de levantar vôo até os bens sobrenaturais ou mesmo de compreender que existem.

Pobres, por amor de Cristo, na abundância e na escassez. Em cada uma dessas situações, o uso dos bens adquirirá umas formas talvez diferentes, mas os sentimentos e as disposições do coração serão os mesmos. “Copio este texto, porque pode dar paz à tua alma: «Encontro-me numa situação econômica tão apertada como nunca. Não perco a paz. Tenho absoluta certeza de que Deus, meu Pai, resolverá todo este assunto de uma vez.

“«Quero, Senhor, abandonar o cuidado de todas as minhas coisas nas tuas mãos generosas. A nossa Mãe – a tua Mãe! –, a estas horas, como em Caná, já fez soar aos teus ouvidos: – Não têm!… Eu creio em Ti, espero em Ti, amo-Te, Jesus: para mim, nada; para eles»”8. Talvez muitas vezes tenhamos necessidade de fazer nossa esta oração.

III. NÓS QUEREMOS seguir Cristo de perto, viver como Ele viveu, no meio do mundo, nas circunstâncias particulares em que nos cabe viver. Um aspecto da pobreza que o Senhor nos pede é cuidarmos, para que durem, dos objetos que utilizamos. Esta atitude requer mortificação, um sacrifício pequeno, mas constante, porque é mais cômodo largar a roupa em qualquer lugar e de qualquer forma, ou deixar para mais tarde – sem data fixa – esse pequeno conserto que, se se realiza logo, evita um gasto maior.

Também quem procura não ter nada de supérfluo está próximo do desprendimento que Cristo nos pede. Para isso, é necessário que nos perguntemos muitas vezes: necessito realmente destes objetos, de duas canetas ou duas esferográficas…? “O supérfluo dos ricos – afirma Santo Agostinho – é o necessário dos pobres. Possuem-se coisas alheias quando se possui o supérfluo”9. Sapatos, utensílios, roupas, aparelhos eletrônicos, material esportivo…, tudo isso que tenho armazenado faz-me realmente falta? Tenho presente que, em boa parte, o desprendimento cristão consiste em “não considerar – de verdade – coisa alguma como própria”10, e atuo de modo conseqüente?

É evidente que a pobreza cristã é compatível com esses adornos da casa de uma família cristã, que se distingue mais pelo bom gosto, pela limpeza (fazer com que as coisas brilhem e rendam) e pela simplicidade do que pela ostentação. A casa deve ser um lugar em que a família se sinta à vontade e a que todos os membros desejem chegar quanto antes pelo carinho que nela se respira, mas não um lugar que seja uma constante ocasião de aburguesamento, de falta de sacrifício nas crianças e nos adultos…

Privar-se do supérfluo significa, sobretudo, não criar necessidades. “Temos que ser exigentes conosco na vida cotidiana, para não inventar falsos problemas, necessidades artificiais que, em último termo, procedem da arrogância, do capricho, de um espírito comodista e preguiçoso. Devemos caminhar para Deus a passo rápido, sem bagagem e sem pesos mortos que dificultem a marcha”11.

Não ter coisas supérfluas ou desnecessárias significa, pois, aprender a não criar falsas necessidades, das quais podemos prescindir com um pouco de boa vontade. E, ao mesmo tempo, agradecer ao Senhor que não nos estejam faltando os meios necessários para o trabalho, para o sustento das pessoas que dependem de nós e para podermos ajudar as obras apostólicas em que colaboramos; estando dispostos a prescindir deles, se Deus assim o permitir.

A Virgem Santa Maria ajudar-nos-á a levar à prática, de verdade, este conselho: “Não ponhas o coração em nada de caduco: imita a Cristo, que se fez pobre por nós e não tinha onde reclinar a cabeça.

“– Pede-lhe que te conceda, no meio do mundo, um efetivo desprendimento, sem atenuantes”12.

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