18 de Setembro de 2020

24a semana comum Sexta-feira

- por Pe. Alexandre

8. SERVIR O SENHOR

– As santas mulheres que aparecem no Evangelho.

– Servir o Senhor com as nossas qualidades. A contribuição da mulher para a vida da Igreja e da sociedade.

– A entrega ao serviço dos outros.

I. E ACONTECEU DEPOIS – narra São Lucas no Evangelho da Missa1 – que Jesus caminhava pelas cidades e aldeias pregando e anunciando o reino de Deus. Acompanhavam‑no os doze e algumas mulheres que tinham sido livradas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios, e Joana, mulher de Cusa, procurador de Herodes; e Susana, e outras muitas que o assistiam com as suas posses.

Na vida pública de Jesus, vemos este grupo de mulheres desempenhar um papel comovedor pela sua ternura e adesão ao Mestre. É bonito considerar como o Senhor quis apoiar‑se na generosidade e no desprendimento dessas mulheres. Ele, que nunca deixou de agradecer qualquer favor, como não lhes retribuiria tanto desvelo e delicadeza em atender às suas necessidades domésticas e às dos seus discípulos! E nas horas da Paixão, essas mulheres parecem exceder‑se e superam os discípulos em constância e valor; à exceção de João, foram as únicas que tiveram a coragem de permanecer ao pé da cruz, de contemplar de perto os derradeiros instantes de Jesus e de ouvir as suas últimas palavras. E quando, já morto, o Senhor é retirado do patíbulo, estão presentes no embalsamamento e dispõem‑se a completá‑lo no primeiro dia da semana, depois do repouso obrigatório do sábado.

O Senhor quis apressar‑se a recompensar essa decidida fidelidade, e, na aurora da Ressurreição, não foi aos discípulos, mas às mulheres, que apareceu em primeiro lugar. Os anjos também foram vistos unicamente por elas; João e Pedro verificaram que o sepulcro estava vazio, mas não viram os anjos. As mulheres foram favorecidas com essa visão talvez por estarem mais bem preparadas que os homens e, sobretudo, porque lhes coube a missão de continuar o papel dos anjos e de preparar a fé nascente da Igreja. Têm um espírito aberto e um zelo inteligente. “Desde o início da missão de Cristo, a mulher demonstra para com Ele e para com o seu mistério uma sensibilidade especial, que corresponde a uma característica da sua feminilidade. É preciso dizer também que uma confirmação particular disso se verifica em relação ao mistério pascal, não só no momento da Cruz, mas também na manhã da Ressurreição”2. Elas apressam‑se a cumprir a indicação de avisar os discípulos e de lhes recordar o que Jesus tinha anunciado antes da Paixão. Também estão presentes nas últimas manifestações de Jesus ressuscitado. E são, sem dúvida, as mesmas que voltaram da Galiléia após a Ascensão, com os discípulos e com as outras mulheres de Jerusalém e arredores, como as irmãs de Lázaro de Betânia. Com elas estava Maria, a Mãe de Jesus3.

O exemplo destas mulheres fiéis, que servem o Senhor com os seus bens e não o desamparam nos piores momentos, é um apelo à nossa fidelidade e a um serviço incondicional a Deus. Deve ser um serviço feito exclusivamente por amor, sem esperar retribuição alguma, como não a esperavam as santas mulheres de Cristo morto e sepultado. Serviam! Eu te servirei, Senhor, todos os dias da minha vida.

II. SE ALGUÉM ME SERVE, siga‑me; e onde eu estou, estará também ali o que me serve. Se alguém me serve, meu Pai o honrará4.

Desde os primeiros momentos da Igreja, a mulher prestou uma colaboração de valor inestimável na tarefa de expandir o Reino de Deus. “Vemos em lugar de destaque aquelas mulheres que se tinham encontrado pessoalmente com Cristo, que o tinham seguido e, depois da sua partida, eram assíduas na oração no Cenáculo de Jerusalém, até o dia de Pentecostes, juntamente com os Apóstolos. Naquele dia, o Espírito Santo falou por meio de filhos e filhas do Povo de Deus, cumprindo o anúncio do profeta Joel (cfr. At 2, 17). Aquelas mulheres, e depois outras mais, tiveram parte ativa e importante na vida da Igreja primitiva, na edificação da primeira comunidade cristã desde os começos – e das comunidades que se seguiram – mediante os seus carismas e com o seu serviço multiforme”5.

Pode‑se afirmar que o cristianismo começou na Europa com uma mulher, Lídia, que empreendeu imediatamente a sua missão de converter o novo continente começando pelo seu lar6. Algo de semelhante aconteceu entre os samaritanos, que ouviram falar pela primeira vez do Redentor por intermédio de uma mulher7; os Apóstolos, que tinham ido à aldeia em busca de alimento, possivelmente não se atreveram a anunciar aos habitantes do lugar – como o faria mais tarde a mulher – que o Messias estava ali mesmo, nos arredores da cidade. A Igreja sempre teve uma profunda compreensão do papel que a mulher cristã, como mãe, esposa e irmã, devia desempenhar na propagação do cristianismo. Os escritos apostólicos mencionam muitas dessas mulheres: Lídia em Filipos, Priscila e Cloé em Corinto, Febe em Cêncris, a mãe de Rufo – que também foi como uma mãe para Paulo –, as filhas de Filipe de Cesaréia, etc.

Todos temos de pôr ao serviço do Senhor e dos outros aquilo que recebemos. “A mulher está destinada a levar à família, à sociedade civil, à Igreja, algo de característico, que lhe é próprio e que só ela pode dar: a sua delicada ternura, a sua generosidade incansável, o seu amor pelo concreto, a sua agudeza de engenho, a sua capacidade de intuição, a sua piedade profunda e simples, a sua tenacidade…”8 A Igreja espera da mulher um compromisso em favor do que constitui a verdadeira dignidade da pessoa humana. O Corpo Místico de Cristo “não cessa de enriquecer‑se com o testemunho das numerosas mulheres que realizam a sua vocação para a santidade. As mulheres santas são uma personificação do ideal feminino, mas são também um modelo para todos os cristãos, um modelo de seqüela Christi – de seguimento de Cristo –, um exemplo de como a Esposa deve corresponder com amor ao amor do Esposo”9.

O Senhor pede a todos que o sirvamos a Ele, à Igreja santa, à sociedade e aos nossos irmãos os homens, com os nossos bens, com a nossa inteligência, com todos os talentos que nos deu. Então entenderemos a profundidade desta verdade: Servir é reinar10.

III. “O HOMEM, a única criatura na terra que Deus quis por si mesma, não pode encontrar‑se plenamente senão por um dom sincero de si mesmo”11. O Papa João Paulo II aplica estas palavras do Concílio Vaticano II especialmente à mulher, que “não pode encontrar‑se a si mesma senão dando amor aos outros”12.

É no amor, na entrega, no serviço aos outros que a pessoa humana, e talvez de um modo especial a mulher, realiza a vocação recebida de Deus. Quando a mulher coloca ao serviço dos outros as qualidades recebidas do Senhor, então “a sua vida e trabalho serão realmente construtivos e fecundos, cheios de sentido, quer passe o dia dedicada ao marido e aos filhos, quer se entregue plenamente a outras tarefas, se renunciou ao casamento por alguma razão nobre. Cada uma no seu próprio caminho, sendo fiel à vocação humana e divina, pode realizar e realiza efetivamente a plenitude da personalidade feminina. Não esqueçamos que Santa Maria, Mãe de Deus e Mãe dos homens, é não apenas modelo, mas também prova do valor transcendente que pode alcançar uma vida aparentemente sem relevo”13.

Hoje, ao considerarmos a generosidade dessas mulheres que seguiram o Senhor, pensemos como é a nossa. Vejamos se contribuímos, também materialmente – com meios econômicos – para a expansão do Reino de Cristo, se somos magnânimos com o nosso tempo no serviço aos outros… E se, ao levarmos a cabo todas as nossas tarefas, as impregnamos de uma profunda alegria, da particular felicidade que essa generosidade produz.

Não esqueçamos, ao terminarmos a nossa oração, que, tanto na vida pública como nas horas da Paixão, e muito provavelmente nos dias que se seguiram à Ressurreição, essas mulheres mencionadas por São Lucas gozaram de um especial privilégio: permaneceram num trato com Maria mais assíduo e mais íntimo do que os próprios discípulos. Aqui encontraram o segredo da generosidade e da constância com que seguiram o Mestre. Recorremos à Virgem para que nos ajude a ser fiéis e desprendidos. Junto dEla, só encontraremos ocasiões de servir, e assim conseguiremos esquecer‑nos de nós mesmos.

São José de Cupertino

- por Pe. Alexandre

O santo de hoje nasceu num estábulo, a exemplo de Jesus, em Cupertino, no reino de Nápoles, a 17 de junho de 1603. Filho de pais pobres, tornou-se um pobre que enriqueceu a Igreja com sua santidade de vida.

José quando menino era a tal ponto limitado na inteligência que pouco aprendia e apresentava dificuldades nos trabalhos manuais, porém, de maneira extraordinária progrediu no campo da oração e da caridade.

São José foi despedido de dois conventos franciscanos por não conseguir corresponder aos ofícios e serviços comuns. Ele, porém, não desistia de recomendar sua causa a Santíssima Virgem, pela qual tinha sido anteriormente curado de uma grave e misteriosa enfermidade.

O poder da oração levou São José de Cupertino para o convento franciscano e ao sacerdócio, precisando para isso que a Graça suprisse as falhas da natureza. Desde então, manifestavam-se nele, fenômenos místicos acompanhados de curas milagrosas, que o tornou conhecido e procurado em toda a região.

Dentre os acontecimentos espirituais o que muito se destacou foi o êxtase, que consiste naquele estado de elevação da alma ao plano sobrenatural, onde a pessoa fica momentaneamente desapegada dos sentidos e entregue totalmente numa contemplação daquilo que é Divino.

São José era tão sensível a esta realidade espiritual, que isto acontecia durante a Santa Missa, quando rezava com os Salmos e em outros momentos escolhidos por Deus; somente num dos conventos onde viveu 17 anos, seus irmãos presenciaram cerca de 70 êxtases do santo. A fama das curas milagrosas se alastrava como uma epidemia, exaltando a imaginação popular, e obrigando o Frei José, a ser transferido de convento para convento. Mas, os fenômenos se repetiam e o povo lhe tirava todo o sossego.

Como na vida da maioria dos santos não faltaram línguas caluniosas que, interpretando mal esta popularidade atribuiu-lhe poderes demoníacos aos seus milagres e êxtases, ao ponto de denunciarem o santo Frei ao Tribunal da Inquisição de Nápoles. O processo terminou reconhecendo a inocência do religioso, impondo-lhe, porém, a reclusão obrigatória e a transferência para conventos afastados.

Depois de sofrer muito e de diversas maneiras, predisse o lugar e o tempo de sua morte, que aconteceu em 18 de setembro de 1663, contando com sessenta anos de humilde testemunho e docilidade aos Carismas do Espírito Santo.

Foi beatificado por Bento XIV em 1753 e canonizado por Clemente XIII em 1767.

São José de Cupertino, rogai por nós!

Meditação

- por Pe. Alexandre

Iam com Ele… (Lc 8,1-3)

 

Esta frase resume o discipulado: ir com Jesus. O grego não possuía um verbo no sentido exato de “seguir”, daí a necessidade de usar a perífrase “ir atrás de”. Trata-se da mesma expressão que Jesus empregou para que Simão Pedro, renitente diante da Paixão, voltasse à condição de discípulo: “Vá para trás de mim!” (Mt 16,23)

E quem seriam, de início, os discípulos de Jesus? Quem é que “ia com ele”? Santos e honestos? Sábios e doutores? Nada disso! São Lucas registrou que entre seus seguidores havia gente ligada ao governo (a mulher do intendente de Herodes), ex-possessos (Maria Madalena) e doentes curados. Gente comum, que não se distinguia por nenhum dote especial, mas escolhida pelo arbítrio do Senhor.

Sim, esta era a “Igreja provisória” de Jesus Cristo. Conforme Helmut Gollwitzer, ela é representada pelos doze apóstolos e por seus companheiros, homens e mulheres testemunhas da vitória sobre as potências destruidoras, ali onde Deus manifesta sua soberania.

“Aqueles que cercam Jesus – prossegue Gollwitzer – não têm boa saúde; eles foram objeto de uma cura e ainda carregam consigo os estigmas de seus sofrimentos passados. Não são sujeitos brilhantes; ao contrário, muita coisa má pode ser dita sobre eles. Não são um cortejo glorioso para Jesus, mas Ele é que é a glória deles.”

Por outro lado, em uma época quando a figura da mulher era vista como absolutamente secundária e deixada nas sombras, São Lucas faz questão de sublinhar a presença de mulheres entre os que seguem Jesus. Estão ali para o servir. E exatamente a palavra “servir” tornou-se a expressão característica para designar a obra que Jesus propõe aos seus. Aqui ela aparece pela primeira vez no texto grego. E tal serviço incluiu a doação de seus bens.

As primeiras comunidades cristãs, certamente condicionadas pela sociedade da época – e isto transparece, por exemplo, nas cartas paulinas – tiveram dificuldade em encontrar o papel adequado para as mulheres, que eram “autorizadas” a servir, enquanto os apóstolos eram “chamados”.

No entanto, basta folhear rapidamente as atas dos mártires para ver que as mulheres não ficaram em segundo plano no testemunho de sua fé.

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