03 de Setembro de 2020
22a semana comum Quinta-feira
- por Pe. Alexandre
QUINTA FEIRA – SÃO GREGÓRIO MAGNO – PAPA E DOUTOR
(branco, pref. comum ou dos pastores – ofício da memória)
Antífona da entrada
– O Senhor o escolheu para a plenitude do sacerdócio e, abrindo seus tesouros, o cumulou de bens
Oração do dia
– Ó Deus, que cuidais do vosso povo com indulgência e o governais com amor, dai, pela intercessão de são Gregório Magno, o espírito de sabedoria àqueles a quem confiastes o governo da vossa Igreja, a fim de que o progresso das ovelhas contribua para a alegria eterna dos pastores. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
1ª Leitura: 1Cor 3,18-23
– Leitura da primeira carta de são Paulo ao Coríntios: Irmãos, 18ninguém se iluda: Se algum de vós pensa que é sábio nas coisas deste mundo, reconheça sua insensatez, para se tornar sábio de verdade; 19pois a sabedoria deste mundo é insensatez diante de Deus. Com efeito, está escrito: “Ele apanha os sábios em sua própria astúcia”, 20e ainda: “O Senhor conhece os pensamentos dos sábios; sabe que são vãos”. 21Portanto, que ninguém ponha a sua glória em homem algum. Com efeito, tudo vos pertence: 22Paulo, Apolo, Cefas, o mundo, a vida, a morte, o presente, o futuro, tudo é vosso, 23mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus.
– Palavra do Senhor.
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 24,1-2.3-4ab.5-6 (R: 1)
– Ao Senhor pertence a terra e o que ela encerra.
R: Ao Senhor pertence a terra e o que ela encerra.
– Ao Senhor pertence a terra e o que ela encerra, o mundo inteiro com os seres que o povoam; porque ele a tornou firme sobre os mares, e sobre as águas a mantém inabalável.
R: Ao Senhor pertence a terra e o que ela encerra.
– “Quem subirá até o monte do Senhor, quem ficará em sua santa habitação?” “Quem tem mãos puras e inocente coração, quem não dirige sua mente para o crime.
R: Ao Senhor pertence a terra e o que ela encerra.
– Sobre este desce a bênção do Senhor e a recompensa de seu Deus e Salvador.” “É assim a geração dos que o procuram, e do Deus de Israel buscam a face”.
R: Ao Senhor pertence a terra e o que ela encerra.
Aclamação ao santo Evangelho.
Aleluia, aleluia, aleluia.
Aleluia, aleluia, aleluia.
– Vinde após mim, diz o Senhor, e eu ensinarei a pescar gente (Mt 4,19).
Aleluia, aleluia, aleluia.
Evangelho de Jesus Cristo, segundo Lucas: Lc 5,1-11
– O Senhor esteja convosco.
– Ele está no meio de nós.
– Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo † segundo Lucas
– Glória a vós, Senhor!
– Naquele tempo, 1Jesus estava na margem do lago de Genesaré, e a multidão apertava-se a seu redor para ouvir a palavra de Deus. 2Jesus viu duas barcas paradas na margem do lago. Os pescadores haviam desembarcado e lavavam as redes. 3Subindo numa das barcas, que era de Simão, pediu que se afastasse um pouco da margem. Depois sentou-se e, da barca, ensinava as multidões. 4Quando acabou de falar, disse a Simão: “Avança para águas mais profundas, e lançai vossas redes para a pesca”. 5Simão respondeu: “Mestre, nós trabalhamos a noite inteira e nada pescamos. Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes”. 6Assim fizeram, e apanharam tamanha quantidade de peixes que as redes se rompiam. 7Então fizeram sinal aos companheiros da outra barca, para que viessem ajudá-los. Eles vieram, e encheram as duas barcas, a ponto de quase afundarem. 8Ao ver aquilo, Simão Pedro atirou-se aos pés de Jesus, dizendo: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador!” 9É que o espanto se apoderara de Simão e de todos os seus companheiros, por causa da pesca que acabavam de fazer. 10Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram sócios de Simão, também ficaram espantados. Jesus, porém, disse a Simão: “Não tenhas medo! De hoje em diante tu serás pescador de homens”. 11Então levaram as barcas para a margem, deixaram tudo e seguiram a Jesus.
– Palavra da salvação.
– Glória a vós, Senhor!
São Gregório Magno
- por Pe. Alexandre
Pedro foi “a pedra” sobre a qual o cristianismo se edificou. Mas para isso foi usada uma argamassa feita da dedicação e da fé de muitos cristãos que o sucederam. Assim, a Igreja Católica se fez grande devido aos grandes papas que teve, dentre os quais temos o papa Gregório, chamado “o Magno”, ou seja, o maior de todos, em sabedoria, inteligência e caridade.
Nascido em 540, na família Anícia, de tradição na Corte romana, muito rica, influente e poderosa, Gregório registrou de maneira indelével sua passagem na história da Igreja, deixando importantíssimas realizações, como, por exemplo, a instituiuição da observância do celibato, a introdução do pai-nosso na missa e o famoso “canto gregoriano”. Foi muito amado pelo povo simples, por causa de sua extrema humildade, caridade e piedade.
Sua vocação surgiu na tenra infância, sendo educado num ambiente muito religioso – sua mãe, Sílvia, e duas de suas tias paternas, Tarsila e Emiliana, tornaram-se santas. As três mulheres foram as responsáveis, também, por sua formação cultural. Quando seu pai, Jordão, morreu, Gregório era muito jovem, mas já havia ingressado na vida pública, sendo o prefeito de Roma.
Nessa época, buscava refúgio na capital um grupo de monges beneditinos, cujo convento, em Montecassino, fora atacado pelos invasores longobardos. Gregório, então, deu-lhes um palácio na colina do Célio, onde fundaram um convento dedicado a santo André. Esse contato constante com eles fez explodir de vez sua vocação monástica. Assim, renunciou a tudo e foi para o convento que permitira fundar, onde vestiu o hábito beneditino. Mais tarde, declararia que seu tempo de monge foram os melhores anos de sua vida.
Como sua sabedoria não poderia ficar restrita apenas a um convento, o papa Pelágio nomeou-o para uma importante missão em Constantinopla. Nesse período, Gregório escreveu grande parte de sua obra literária. Chamado de volta a Roma, foi eleito abade do Convento de Santo André e, nessa função, ganhou fama por sua caridade e dedicação ao próximo.
Assim, após a morte do papa Pelágio, Gregório foi eleito seu sucessor. Porém, de constituição física pequena e já que desde o nascimento nunca teve boa saúde, relutou em aceitar o cargo. Chegou a escrever uma carta ao imperador, pedindo que o liberasse da função. Só que a carta nunca foi remetida pelos seus confrades e ele acabou tendo de assumir, um ano depois, sendo consagrado em 3 de setembro de 590.
Os quatorze anos de seu pontificado passaram para a história da Igreja como um período singular. Papa Gregório levou uma vida de monge, dispensou todos os leigos que serviam no palácio, exercendo um apostolado de muito trabalho, disciplina, moralidade e respeito às tradições da doutrina cristã. No comando da Igreja, orientou a conversão dos ingleses, protegeu os judeus da Itália contra a perseguição dos hereges e tomou todas as atitudes necessárias para que o cristianismo fosse respeitado por sua piedade, prudência e magnanimidade.
Morreu em 604, sendo sepultado na basílica de São Pedro. Os registros mostram que, durante o seu funeral, o povo já aclamava santo o papa Gregório Magno, honrado com o título de doutor da Igreja. Sua festa ocorre no dia em que foi consagrado papa.
Meditação
- por Pe. Alexandre
88. O PODER DA OBEDIÊNCIA
– A obediência dá forças e frutos.
– Necessidade desta virtude para quem quer seguir Cristo de perto.
– Não impor limites ao querer de Deus.
I. JESUS ESTAVA JUNTO do lago de Genesaré com uma grande multidão que desejava ouvir a Palavra de Deus. Pedro e os seus companheiros de trabalho lavavam as redes depois de terem labutado uma noite inteira sem pescar nada. E Jesus, que queria meter‑se a fundo na alma de Simão, entrou na sua barca e pediu‑lhe que a afastasse um pouco da margem. E, sentado, ensinava da barca à multidão1. Enquanto escutava o Mestre, a quem já conhecia desde que seu irmão André o levara até Ele2, talvez Pedro tivesse continuado com a tarefa de deixar arrumados os apetrechos de pesca, sem suspeitar dos planos grandiosos do Senhor.
Quando acabou de falar, Jesus disse a Simão: Guia mar adentro e lançai as vossas redes para a pesca. Tudo convidava à desculpa: o cansaço, que é maior quando não se pescou nada, as redes já lavadas e preparadas para a noite seguinte, a inoportunidade da hora para a pesca. Mas o olhar de Jesus, o tom imperativo e ao mesmo tempo amável com que deu a ordem, a enorme atração que Cristo exerce sobre as almas nobres, levaram Pedro a fazer‑se ao largo novamente. O único motivo por que o fez foi Jesus: Mestre – disse‑lhe –, estivemos trabalhando durante toda a noite e nada pescamos, mas, sob a tua palavra, lançarei as redes. Sob a tua palavra. Essa foi a grande razão.
Em muitas ocasiões, quando aparece essa fadiga peculiar que resulta de não vermos frutos na vida interior ou na ação apostólica, quando nos parece que tudo foi um fracasso e nos assaltam raciocínios humanos que nos pretendem convencer a abandonar a tarefa, devemos ouvir a voz de Jesus que nos diz: Duc in altum, guia mar adentro, recomeça, torna a tentar… em meu Nome.
“O segredo de todos os progressos e de todas as vitórias é, na verdade, o saber recomeçar, o tirar ensinamentos de um fracasso e o tentar de novo”3. Através desses aparentes fracassos, talvez o Senhor queira dizer‑nos que devemos trabalhar por motivos mais sobrenaturais, por obediência, por Ele e só por Ele.
“Que poder o da obediência! – O lago de Genesaré negava os seus peixes às redes de Pedro. Toda uma noite em vão.
“– Agora, obediente, tornou a lançar a rede à água e pescaram «piscium multitudinem copiosam» – uma grande quantidade de peixes.
“– Acredita: o milagre repete‑se todos os dias”4.
Se alguma vez nos encontramos cansados e sem forças para recomeçar, olhemos para o Senhor que nos acompanha nesta nossa barca. Jesus convida‑nos então a pôr em prática, com docilidade interior, com empenho, esses conselhos que recebemos na confissão, na direção espiritual, certos de que recuperaremos as forças. “Muitas vezes – diz Santa Teresa –, parecia‑me não poder sofrer o trabalho conforme a minha baixeza natural. Disse‑me o Senhor: Filha, a obediência dá forças”5.
II. PEDRO FEZ‑SE AO LARGO com Jesus na barca, e em breve percebeu que as redes se enchiam de peixes; tantos, que parecia que iam rompê‑las. E fizeram sinais aos companheiros da outra barca para que viessem ajudá‑los. Eles vieram e encheram as duas barcas, tanto que se afundavam. Houve peixe para todos; Deus sempre recompensa a obediência com frutos sem conta.
Esta passagem do Evangelho está cheia de ensinamentos: durante a noite, na ausência de Cristo, o trabalho havia sido estéril. O mesmo acontece na vida dos cristãos, quando querem empreender tarefas apostólicas sem contar com o Senhor, em plena escuridão, deixando‑se levar unicamente pela sua experiência ou por esforços demasiado humanos.
“Empenhas‑te em andar sozinho, fazendo a tua própria vontade, guiado exclusivamente pelo teu próprio juízo… e, bem vês!, o fruto chama‑se «infecundidade».
“Filho, se não abates o teu juízo, se és soberbo, se te dedicas ao «teu» apostolado, trabalharás durante toda a noite – toda a tua vida será uma noite! –, e no fim amanhecerás com as redes vazias”6.
Pedro mostrou‑se humilde ao obedecer à voz de quem, por não ser homem de mar, bem se poderia pensar que pouco ou nada sabia daquele trabalho em que ele, Simão, tinha adquirido tanta experiência e saber ao longo dos anos. Fia‑se, no entanto, do Senhor, tem mais confiança na palavra de Jesus do que nos seus anos de faina pesqueira. Esta obediência e confiança nas palavras de Jesus acabaram de preparar Pedro para receber a sua chamada definitiva. Foi como se o Senhor só tivesse querido chamá‑lo para sempre depois de obter dele um ato de obediência e de confiança plenas.
Para quem quer ser discípulo de Cristo, a necessidade da obediência não resulta de considerações de conveniência ou de eficácia, mas de que a obediência faz parte do mistério da Redenção, pois o próprio Cristo “revelou o seu mistério e levou a cabo a Redenção por meio da sua obediência”7. Quem quiser seguir os passos do Mestre não pode, pois, pôr limites à sua obediência; o Senhor quer que lhe obedeçamos no fácil e no heróico, como Ele próprio o fez: “Obedeceu em coisas gravíssimas e dificílimas: até à morte de Cruz”8.
A obediência leva‑nos a querer identificar em tudo a nossa vontade com a vontade de Deus, que nos é dada a conhecer através dos pais, dos superiores, dos deveres que nos são impostos pelos afazeres familiares, sociais e profissionais. Numa palavra, leva‑nos a uma submissão alegre e delicada às disposições da autoridade legítima nas diversas ordens da vida humana, principalmente ao Papa e ao Magistério da Igreja. E no que se refere à alma, leva‑nos de modo muito particular a ser dóceis aos conselhos recebidos na confissão e na direção espiritual.
Quando permanecemos com Cristo, Ele sempre enche de peixes abundantes as nossas redes. Junto dEle, até o que parecia estéril e sem sentido torna‑se eficaz e frutuoso. “A obediência torna meritórios os nossos atos e sofrimentos, de tal forma que, por mais inúteis que estes últimos venham a parecer‑nos, podem chegar a ser muito fecundos. Uma das maravilhas realizadas por Nosso Senhor foi ter tornado proveitosa a coisa mais inútil que existe à face da terra: a dor. Ele a glorificou mediante a obediência e o amor”9.
III. PEDRO FICOU ASSOMBRADO com a pesca. Neste milagre, o Senhor manifestou‑se muito particularmente a ele. O Apóstolo olhou para Jesus e lançou‑se aos seus pés, dizendo‑lhe: Afasta‑te de mim, que sou um homem pecador. Compreendeu a sua pequenez diante da suprema dignidade de Cristo. Jesus disse‑lhe: Não temas; doravante serás pescador de homens. Pedro e os que o haviam acompanhado na pesca, atracando as barcas, deixaram tudo e seguiram‑no.
Jesus começou por pedir‑lhe que lhe cedesse a barca, e acabou por ficar com a sua vida. E Pedro haveria de deixar atrás de si uma marca inesquecível em tantas almas que o próprio Cristo poria ao seu alcance. Começou por obedecer num pequeno pormenor e o Senhor manifestou‑lhe os grandiosos planos que tinha para ele, pobre pescador da Galiléia, desde toda a eternidade. Nunca teria podido suspeitar da transcendência e do valor da sua vida. Milhões e milhões de pessoas acenderiam a sua fé na daqueles que seguiram Jesus naquele dia, e muito particularmente na de Pedro, que seria a rocha, o fundamento inamovível da Igreja.
Nós também não podemos imaginar as conseqüências da nossa fidelidade em seguir as pegadas de Cristo. O Senhor pede‑nos cada vez mais correspondência, mais docilidade e mais obediência ao que nos vai manifestando de muitas maneiras. E, se formos fiéis, um dia far‑nos‑á contemplar a transcendência do nosso seguimento com obras: “Se corresponderes à chamada que o Senhor te fez, a tua vida – a tua pobre vida! – deixará na história da humanidade um sulco profundo e largo, luminoso e fecundo, eterno e divino”10.
Não ponhamos limites ao Senhor, tal como Pedro não os pôs. “Se és homem de mar alto, agarra com firmeza o teu leme […]. Se te dás a Deus, dá‑te como os santos se deram. Que nada prenda a tua atenção e te desvie da marcha que empreendeste: és de Deus. Se te dás, dá‑te para a eternidade. Nem as vagas nem a ressaca abalarão os teus alicerces. Deus apóia‑se em ti; mete também ombros ao trabalho, e navega contra a corrente […]. Duc in altum! Lança‑te às águas com a audácia dos ébrios de Deus”11.
A nossa Mãe Santa Maria, Stella maris, Estrela do mar, ensinar‑nos‑á a ser generosos com o Senhor quando nos pedir emprestada uma barca e depois quiser que lhe demos a vida inteira.
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