06 de Agosto de 2020
17a 18a semana comum Quinta-feira
- por Pe. Alexandre
QUINTA FEIRA – TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR
(branco, glória, pref. próprio – ofício da festa)
Antífona da entrada
– O Espírito Santo apareceu na nuvem luminosa e a voz do Pai se fez ouvir: Este é meu Filho amado, nele depositei todo o meu amor. Escutai-o (Mt 17,5).
Oração do dia
– Ó Deus, que na gloriosa Transfiguração de vosso Filho confirmastes os mistérios da fé pelo testemunho de Moisés e Elias, e manifestastes de modo admirável a nossa glória de filhos adotivos, concedei aos vossos servos e servas ouvir a voz do vosso Filho amado, e compartilhar da sua herança. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
1ª Leitura: Dn 7,9-10.13-14
– Leitura da profecia de Daniel: 9Eu continuava olhando até que foram colocados uns tronos, e um ancião de muitos dias aí tomou lugar. Sua veste era branca como neve e os cabelos da cabeça, como lã pura; seu trono eram chamas de fogo, e as rodas do trono, como fogo em brasa. 10Derramava-se aí um rio de fogo que nascia diante dele; serviam-no milhares de milhares, e milhões de milhões assistiam-no ao trono; foi instalado o tribunal e os livros foram abertos. 13Continuei insistindo na visão noturna, e eis que, entre as nuvens do céu, vinha um como filho do homem, aproximando-se do Ancião de muitos dias, e foi conduzido à sua presença. 14Foram-lhe dados poder, glória e realeza, e todos os povos, nações e línguas o serviam: seu poder é um poder eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá.
– Palavra do Senhor.
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 97,1-2.5-6.9 (R: 1a9a)
– Deus é Rei, é o Altíssimo, muito acima do universo.
R: Deus é Rei, é o Altíssimo, muito acima do universo.
– Deus é Rei! Exulte a terra de alegria, e as ilhas numerosas rejubilem! Treva e nuvem o rodeiam no seu trono, que se apoia na justiça e no direito.
R: Deus é Rei, é o Altíssimo, muito acima do universo.
– As montanhas se derretem como cera ante a face do Senhor de toda a terra; e assim proclama o céu sua justiça, todos os povos podem ver a sua glória.
R: Deus é Rei, é o Altíssimo, muito acima do universo.
– Porque vós sois o altíssimo, Senhor, muito acima do universo que criastes, e de muito superais todos os deuses.
R: Deus é Rei, é o Altíssimo, muito acima do universo.
Aclamação ao santo Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
Aleluia, aleluia, aleluia.
– Eis meu Filho muito amado, nele está meu benquerer, escutai-o, todos vós! (Mt 17,5).
Aleluia, aleluia, aleluia.
Evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus: Mt 17,1-9
– O Senhor esteja convosco.
– Ele está no meio de nós.
– Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo † segundo Mateus
– Glória a vós, Senhor!
– Naquele tempo, 1Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. 2E foi transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas como a luz. 3Nisto apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus. 4Então Pedro tomou a palavra e disse: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés, e outra para Elias”. 5Pedro ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra. E da nuvem uma voz dizia: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo meu agrado. Escutai-o!” 6Quando ouviram isto, os discípulos ficaram muito assustados e caíram com o rosto em terra. 7Jesus se aproximou, tocou neles e disse: “Levantai-vos, e não tenhais medo”. 8Os discípulos ergueram os olhos e não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus. 9Quando desciam da montanha, Jesus ordenou-lhes: “Não conteis a ninguém esta visão até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos”.
– Palavra da salvação.
– Glória a vós, Senhor!
Festa da Transfiguração de Nosso senhor Jesus Cristo
- por Pe. Alexandre
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 9, 2-10)
Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, e os levou sozinhos a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. E transfigurou-se diante deles.
Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar. Apareceram-lhe Elias e Moisés, e estavam conversando com Jesus.
Então Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: “Mestre, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Pedro não sabia o que dizer, pois estavam todos com muito medo.
Então desceu uma nuvem e os encobriu com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: “Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!” E, de repente, olhando em volta, não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus com eles.
Ao descerem da montanha, Jesus ordenou que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do Homem tivesse ressuscitado dos mortos. Eles observaram esta ordem, mas comentavam entre si, o que queria dizer “ressuscitar dos mortos”.
Na festa da Transfiguração do Senhor celebramos, com esperança e alegria antecipada, aquilo que estamos chamados a ser depois da ressurreição. Unidos novamente a nossos corpos, glorificados e espiritualizados, seremos no céu humanidade divinizada, participantes da natureza divina (cf. 2Pd 1, 4) não só pela graça, mas pela glória, da qual ela é já nesta vida semente e princípio. No Evangelho deste dia, testemunho que Marcos colheu diretamente de Pedro, como nos indica também a primeira leitura da Liturgia de hoje (cf. 2Pd 1, 16-19), vemos o Senhor subir, em companhia de seus três discípulos mais íntimos, um monte que a tradição identifica com o Tabor. Lá, deixando transparecer o esplendor de sua divindade, Cristo transfigurado faz Pedro, Tiago e João experimentarem um misto inexprimível de sensações: medo, estupor, perplexidade e, mais do que tudo, profunda alegria: “Senhor, é bom estarmos aqui” (Mt 17, 4), diz com costumada ousadia o príncipe dos Apóstolos. O rosto luminoso de Cristo nos indica hoje a transformação que Ele quer operar em nós: sem nos fazer perder nossa humanidade, Ele quer comunicar-nos, pela participação de sua graça, sua própria condição divina, para que sejamos como deuses (cf. Jo 10, 34; Sl 81, 6). Essa transformação, que se cumprirá plenamente no céu, tem início já neste mundo quando, pelo Batismo, somos sepultados com Cristo (cf. Rm 6, 4) e com Ele ressurgimos para uma condição nova, feitos agora filhos adotivos do Pai. É nos santos, de modo particular, que vemos essa transfiguração de que o Senhor nos quer fazer partícipes: neles, o Espírito Santo age de tal modo através de seus dons que os atos heróicos de amor, fortaleza e entrega que a história lhes atribui já não são apenas humanos, mas radicalmente divinos. Que também nós, sendo fiéis à graça e em tudo procurando ser santos para maior glória de Deus, possamos um dia ver realizada em nossos corpos e almas a transfiguração que hoje contemplamos no rosto adorável de Cristo.
Meditação
- por Pe. Alexandre
12. TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR
Festa
– O Senhor conforta os seus discípulos na iminência da sua Paixão e Morte.
– O próprio Deus será a nossa recompensa.
– O Senhor está ao nosso lado para nos ajudar a enfrentar as situações mais difíceis e que mais pesam.
Esta festa do Senhor celebrou-se desde os começos nesta mesma data, em muitos lugares do Ocidente e do Oriente. No século XV, o Papa Calixto III estendeu-a a toda a Igreja. A liturgia recorda-nos mais de uma vez durante o ano o milagre da Transfiguração: no segundo domingo da Quaresma, para afirmar a divindade de Cristo, pouco antes da Paixão; e hoje, para festejar a exaltação de Cristo na sua glória. A Transfiguração do Senhor é, além disso, uma antecipação do que será a glória do Céu, onde veremos a Deus cara a cara; em virtude da graça, participamos já nesta terra dessa promessa da vida eterna.
I. QUANDO CRISTO SE MANIFESTAR, seremos semelhantes a Ele, pois o veremos tal como é1.
Jesus tinha anunciado aos seus discípulos a iminência da sua Paixão e os sofrimentos que viria a padecer às mãos dos judeus e dos gentios; e exortara-os a segui-lo pelo caminho da cruz e do sacrifício2. Poucos dias depois desses acontecimentos, que tiveram lugar em Cesaréia de Filipe, quis confortar-lhes a fé, pois – como ensina São Tomás –, para que uma pessoa ande retamente por um caminho, é preciso que conheça antes de algum modo o fim para o qual se dirige: “como o arqueiro não lança com acerto a seta se primeiro não olha o alvo. E isto é necessário sobretudo quando a via é áspera e difícil e o caminho laborioso… E por isso foi conveniente que o Senhor manifestasse aos seus discípulos a glória da sua claridade, que é o mesmo que transfigurar-se, pois nessa claridade transfigurará os seus”3.
A nossa vida é um caminho para o Céu. Mas é uma via que passa pela cruz e pelo sacrifício. Até o último momento, teremos de lutar contra a corrente, e é possível que também passemos pela tentação de querer tornar compatível a entrega que o Senhor nos pede com uma vida fácil e talvez aburguesada, como a de tantos que vivem com o pensamento posto exclusivamente nas coisas materiais. “Não sentimos freqüentemente a tentação de pensar que chegou o momento de converter o cristianismo em algo fácil, de torná-lo confortável, sem sacrifício algum; de fazê-lo conformar-se com as maneiras cômodas, elegantes e comuns dos outros e com o modo de vida mundano? Mas não é assim!… O cristianismo não pode dispensar a cruz: a vida cristã é inviável sem o peso forte e grande do dever… Se procurássemos tirá-lo da nossa vida, criaríamos ilusões e debilitaríamos o cristianismo; transformá-lo-íamos numa interpretação branda e cômoda da vida”4. Não é esse o caminho que o Senhor indicou.
Quando chegassem os momentos dolorosos da Paixão, os discípulos ficariam profundamente desconcertados. Por isso, o Senhor levou três deles – precisamente aqueles que o acompanhariam na sua agonia no horto de Getsêmani – ao cimo do monte Tabor, para que contemplassem a sua glória. Ali mostrou-se “na claridade soberana que quis tornar visível a esses três homens, refletindo o espiritual de uma maneira adequada à natureza humana. Pois era impossível que, revestidos ainda de carne mortal, pudessem ver ou contemplar aquela inefável e inacessível visão da própria divindade que está reservada aos limpos de coração na vida eterna”5, aquela que nos aguarda se procurarmos ser fiéis todos os dias.
O Senhor também quer confortar-nos com a esperança do Céu especialmente se alguma vez o nosso caminho se torna íngreme e nos deixamos invadir pelo desalento. Pensar nas coisas que nos esperam ajudar-nos-á a ser fortes e a perseverar. Não deixemos de trazer à memória o lugar que o nosso Pai-Deus nos preparou e para o qual nos dirigimos. Cada dia que passa aproxima-nos um pouco mais do Céu. Para um cristão, a passagem do tempo não é, de maneira nenhuma, uma tragédia; pelo contrário, encurta o caminho que temos de percorrer até recebermos o abraço definitivo de Deus, o abraço há tanto tempo esperado.
II. JESUS TOMOU CONSIGO Pedro, Tiago e João, e levou-os à parte a um monte alto, e transfigurou-se diante deles. E o seu rosto ficou refulgente como o sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a neve. E eis que lhes apareceram Moisés e Elias e falavam com Ele6. Esta visão produziu nos Apóstolos uma felicidade irreprimível; Pedro expressa-a com estas palavras: Senhor, é bom estarmos aqui; se queres, façamos aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias7. Sentia-se tão feliz que nem sequer pensou em si mesmo, nem em Tiago e João, que o acompanhavam. São Marcos, que nos transmite a catequese do próprio São Pedro, acrescenta que o Apóstolo não sabia o que dizia8. Estando ele ainda a falar, eis que uma nuvem resplandecente os envolveu; e saiu da nuvem uma voz que dizia: Este é o meu filho muito amado, em quem pus todas as minhas complacências; ouvi-o9.
A lembrança desses momentos no Tabor viriam a ser sem dúvida de grande ajuda para os três discípulos em tantas circunstâncias difíceis e dolorosas pelas quais teriam de passar. São Pedro recordá-los-á até o fim da vida. Numa das suas Epístolas, dirigida aos primeiros cristãos para confortá-los num momento de dura perseguição, afirma que eles, os Apóstolos, não anunciaram Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosas, mas depois de termos sido espectadores da sua grandeza. Pois Ele recebeu de Deus Pai honra e glória quando a majestosa glória lhe dirigiu estas palavras: Este é o meu Filho muito amado, em quem pus as minhas complacências; ouvi-o. E nós mesmos ouvimos essa voz vinda do Céu, quando estávamos com ele sobre o monte santo10.
O Senhor, momentaneamente, permitiu que os três discípulos pudessem entrever a sua divindade, e eles ficaram fora de si, cheios de uma imensa felicidade. “A transfiguração revela-lhes um Cristo que não se mostrava na vida cotidiana. Está diante deles como Alguém no qual se cumpre a Antiga Aliança, e sobretudo como o Filho eleito do Pai Eterno, a quem é preciso prestar fé absoluta e obediência total”11, a quem devemos buscar ao longo da nossa existência aqui na terra.
O que será o Céu que nos espera, onde contemplaremos Cristo glorioso, não num instante, mas numa eternidade sem fim, se formos fiéis? “Meu Deus, quando te amarei a Ti, por Ti? Se bem que, bem vistas as coisas, Senhor, desejar o prêmio imperecível é o mesmo que desejar-te a Ti, que Te dás como recompensa”12.
III. ESTANDO ELE AINDA A FALAR, eis que uma nuvem resplandecente os envolveu; e saiu da nuvem uma voz que dizia: Este é o meu filho muito amado, em quem pus todas as minhas complacências; ouvi-o13. Quantas vezes não o teremos nós ouvido na intimidade do nosso coração!
O mistério que hoje celebramos não foi um sinal e antecipação unicamente da glorificação de Cristo, mas também da nossa, pois, como ensina São Paulo, o mesmo Espírito dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus. E, se somos filhos, também herdeiros: herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo; mas isto, se sofrermos com ele, para com ele sermos glorificados14. E o Apóstolo acrescenta: Porque eu tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória vindoura, que se há de manifestar em nós15. Qualquer padecimento, pequeno ou grande, que padeçamos por Cristo não é nada se o compararmos com a recompensa que nos espera.
O Senhor abençoa com a Cruz, especialmente quando deseja conceder-nos bens muito grandes. Se alguma vez permite que experimentemos mais intensamente a sua Cruz, isso é sinal de que nos considera filhos prediletos. Podemos padecer humilhações, dores físicas, fracassos, contradições familiares… Não é então o momento de ficarmos tristes, mas de recorrermos ao Senhor e experimentarmos o seu amor paternal e o seu consolo. Nunca nos faltará a sua ajuda para convertermos esses males aparentes em grandes bens para a nossa alma e para toda a Igreja. “Não se carrega já uma cruz qualquer, descobre-se a Cruz de Cristo, com o consolo de que é o Redentor quem se encarrega de suportar o peso”16. É Ele, o Amigo inseparável, quem carrega os fardos duros e difíceis. Sem Ele, qualquer peso nos esmaga.
Se nos mantivermos sempre perto de Jesus, nada poderá causar-nos verdadeiro mal: nem a ruína econômica, nem a prisão, nem a doença grave…, muito menos as pequenas contrariedades diárias que tendem a tirar-nos a paz se não estamos alerta. O próprio São Pedro recordava-o aos primeiros cristãos: Quem poderá fazer-vos mal, se vós fordes zelosos em praticar o bem? E até se alguma coisa sofreis pela justiça, sois bem-aventurados17.
Peçamos a Nossa Senhora que saibamos oferecer com paz a dor e o cansaço que cada dia traz consigo, com o pensamento posto em Jesus, que nos acompanha nesta vida e que nos espera, glorioso, no fim do caminho. “E quando chegar aquela hora / em que se fechem meus humanos olhos, / abri-me outros, Senhor, outros maiores, / para contemplar a vossa face imensa. / Seja a morte um maior nascimento!”18, o começo de uma vida sem fim.
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