24 de Julho de 2020
16a Semana Comum Sexta-feira
- por Pe. Alexandre
SEXTA FEIRA – XVI SEMANA DO TEMPO COMUM
(verde – Ofício do dia)
Antífona da entrada
– É Deus quem me ajuda, é o senhor que defende a minha vida. Senhor, de todo coração hei de vos oferecer o sacrifício e dar graças ao vosso nome, porque sois bom. (Sl 53,6).
Oração do dia
– Ó Deus, sede generoso com vossos filhos e filhas e multiplicai em nós os dons da vossa graça, para que, repletos de fé, esperança e caridade, guardemos fielmente os vossos mandamentos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
1ª Leitura: Jr 3,14-1
– Leitura do livro do profeta Jeremias: 14”Convertei-vos, filhos, que vos tendes afastado de mim, diz o Senhor, pois eu sou vosso Senhor; vou tomar-vos, um de uma cidade e dois de uma família, e vos reconduzirei a Sião; 15eu vos darei pastores segundo o meu coração, que vos apascentarão com clarividência e sabedoria. 16Quando vos tiverdes multiplicado e crescerdes na terra, naqueles dias, diz o Senhor, não se falará mais da ‘arca da aliança do Senhor’; ela não virá à memória de ninguém, não se lembrarão dela, não a procurarão nem fabricarão outra. 17Naquele tempo, chamarão Jerusalém Trono do Senhor, em torno dela se reunirão, em nome do Senhor, todos os povos; eles não se deixarão mais levar pelas inclinações de um coração mau”.
– Palavra do Senhor.
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl (Jr) 31,10.11-12ab.13 (R: 10d)
– O Senhor nos guardará qual pastor a seu rebanho.
R: O Senhor nos guardará qual pastor a seu rebanho.
– Ouvi, nações, a palavra do Senhor e anunciai-a nas ilhas mais distantes: “Quem dispersou Israel, vai congregá-lo, e o guardará qual pastor a seu rebanho!”
R: O Senhor nos guardará qual pastor a seu rebanho.
– Pois, na verdade, o Senhor remiu Jacó e o libertou do poder do prepotente. Voltarão para o monte de Sião, entre brados e cantos de alegria afluirão para as bênçãos do Senhor.
R: O Senhor nos guardará qual pastor a seu rebanho.
– Então a virgem dançará alegremente, também o jovem e o velho exultarão; mudarei em alegria o seu luto, serei consolo e conforto após a guerra.
R: O Senhor nos guardará qual pastor a seu rebanho.
Aclamação ao santo Evangelho.
Aleluia, aleluia, aleluia.
Aleluia, aleluia, aleluia.
– Felizes os que observam a palavra do Senhor de reto coração e que produzem muitos frutos, até o fim perseverantes! (Lc 8,15).
Aleluia, aleluia, aleluia.
Evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus: Mt 13,18-23
– O Senhor esteja convosco.
– Ele está no meio de nós.
– Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo † segundo Mateus
– Glória a vós, Senhor!
– Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 18“Ouvi a parábola do semeador: 19Todo aquele que ouve a Palavra do Reino e não a compreende, vem o Maligno e rouba o que foi semeado em seu coração. Este é o que foi semeado à beira do caminho. 20A semente que caiu em terreno pedregoso é aquele que ouve a Palavra e logo a recebe com alegria; 21mas ele não tem raiz em si mesmo, é de momento: quando chega o sofrimento ou a perseguição, por causa da Palavra, ele desiste logo. 22A semente que caiu no meio dos espinhos é aquele que ouve a palavra, mas as preocupações do mundo e a ilusão da riqueza sufocam a Palavra, e ele não dá fruto. 23A semente que caiu em boa terra é aquele que ouve a Palavra e a compreende. Esse produz fruto. Um dá cem, outro sessenta e outro trinta”.
– Palavra da salvação.
– Glória a vós, Senhor!
Santa Cristina
- por Pe. Alexandre
Santa Cristina
Século III
A arqueologia não serve apenas para descobrir os dinossauros enterrados pelo mundo. Ela também pode confirmar a existência dos santos mártires que marcaram sua trajetória na história pela fé em Deus. Foi o que aconteceu com santa Cristina, que teve sua tradição comprovada somente no século XIX, com as descobertas científicas desses pesquisadores.
Segundo os mosaicos descobertos na igreja de Santo Apolinário, em Ravena, construída no século VI, Cristina era realmente uma das virgens cristãs mártires das antigas perseguições. E portanto, já naquele século, venerada como santa, como se pôde observar pela descoberta de sua sepultura, que também possibilitou o aparecimento de um cemitério subterrâneo, que estava oculto ao lado.
A arte também compareceu para corroborar seu testemunho através dos tempos. O martírio da jovem virgem Cristina foi representado pelas mãos de famosos pintores, como João Della Robbias, Lucas Signorelli, Paulo Veronese e Lucas Cranach, entre outros. Além dos textos escritos em latim e grego que relatam seu suplício e morte, que só discordam quanto à cidade de sua origem.
Os registros gregos mostram como sua terra natal Tiro, enquanto os latinos citam Bolsena, na Toscana, Itália. Esses relatos do antigo povo cristão contam que o pai de Cristina, Urbano, era pagão e um oficial do Império Romano, que, ao saber da conversão da filha, queria obrigá-la a renunciar ao cristianismo. Por isso decidiu trancar a filha numa torre na companhia de doze servas pagãs. Para mostrar que não abdicava da fé em Cristo, Cristina despedaçou as estátuas dos deuses pagãos existentes na torre e jogou, janela abaixo, as jóias que as adornavam, para que os pobres pudessem pegá-las. Quando tomou conhecimento do feito, Urbano mandou chicoteá-la e prendê-la num cárcere. Nem assim conseguiu a rendição da filha, por isso a entregou aos juízes.
Cristina foi torturada terrivelmente e depois jogada numa cela, onde três anjos celestes limparam e curaram suas feridas. Como solução final, o governante pagão mandou que lhe amarrassem uma pedra ao pescoço e a jogassem num lago. Novamente, anjos intervieram: sustentaram a pedra, que ficou boiando na superfície da água, e levaram a jovem até a margem do lago.
As torturas continuaram, mesmo depois de seu pai ser castigado por Deus e morrer de forma terrível. Cristina ainda foi novamente flagelada, depois amarrada a uma grade de ferro quente e colocada numa fornalha superaquecida, mordida por cobras venenosas e teve os seios cortados, antes de, finalmente, ser morta com duas lanças transpassando seu corpo virgem.
Assim o seu martírio foi divulgado pelo povo cristão desde 23 de julho de 287, data de sua morte.
A festa de Santa Cristina foi confirmada e mantida pela Igreja neste dia.
Meditação
- por Pe. Alexandre
35. A VIRTUDE DA TEMPERANÇA
– Dignidade do corpo e de todas as coisas criadas. Necessidade desta virtude.
– A temperança humaniza o homem e possibilita a sua plenitude. Desprendimento dos bens. Dar exemplo.
– Algumas manifestações de temperança.
I. A IGREJA sempre reconheceu a dignidade do corpo humano e de todas as coisas criadas. No relato da Criação, o autor sagrado mostra como Deus se regozijou com o que tinha feito1; depois de ter criado o homem, diz o Gênesis, Deus viu que era muito bom tudo o que tinha feito2, e constituiu‑o como cabeça de toda a criação. E com a vinda da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, que assumiu a natureza humana e realizou a redenção do homem e do universo material, tudo o que é humano adquiriu uma particular dignidade.
Não é doutrina cristã a oposição radical entre a alma e o corpo, pois todo o homem, em corpo e alma, está chamado a alcançar a vida eterna. Ninguém como a Igreja ensinou a dignidade e o respeito que se deve ao corpo: Não sabeis que os vossos membros são templo do Espírito Santo que habita em vós, e que o recebestes de Deus e que portanto não vos pertenceis a vós mesmos? Porque fostes comprados por um grande preço. Glorificai, pois, e trazei a Deus no vosso corpo3.
No entanto, por causa da desordem que o pecado introduziu no mundo, o homem tem de esforçar‑se e lutar para não se ver prisioneiro e escravo dos bens que Deus criou para ele com o fim de que também através deles pudesse alcançar o Céu. Especialmente nos nossos dias, parece que muitos procuram estabelecer como fim aquilo que Deus estabeleceu como meio, e põem de parte as leis divinas, sem perceber que caem nas garras de um tirano cada vez mais exigente. Desse modo, desfiguram a imagem de Deus que existe em todo o homem e, com ela, a própria dignidade humana. A temperança, pelo contrário, “faz com que o corpo e os nossos sentidos encontrem o lugar exato que lhes corresponde no nosso ser humano”4, o lugar que Deus lhes determinou.
Os que não estão habituados a negar‑se em nada, os que abrem as portas a tudo o que os sentidos lhes pedem, os que procuram em primeiro lugar agradar ao corpo e só se empenham em andar à busca das maiores comodidades, dificilmente poderão ser donos de si mesmos e chegar a Deus. Estão como que embotados para as coisas divinas, e também para muitos valores humanos, que não entendem e para os quais se encontram incapacitados. São mau terreno para que a semente da graça divina lance raízes neles. O próprio Senhor nos diz no Evangelho da Missa que aquele que recebeu a semente entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os cuidados deste século e a sedução das riquezas sufocam a palavra, e ela fica infrutuosa5.
Num clima em que o importante é o corpo, a saúde, o aspecto físico, é impossível que a vida cristã ganhe raízes e dê fruto. Os bens convertem‑se assim em males, em duros espinhos que sufocam o que há de mais nobre no homem e a própria vida eterna, que se inicia já aqui na alma em graça: “Com o corpo pesado e enfartado de mantimentos, muito mal preparado está o ânimo para voar em direção ao alto”6.
Temos que estar atentos para não nos deixarmos levar por essa ânsia desmedida de bem‑estar que está presente em muitos setores do mundo atual, nos quais se pensa que o ápice da vida e do triunfo consiste em ter mais e em ostentar aquilo que se possui. O nosso verdadeiro êxito está em sermos fiéis àquilo que Deus quer de nós e em alcançarmos a vida eterna. Nós sabemos que o nosso coração só pode saciar‑se em Deus, pois está feito para a eternidade, e que as coisas terrenas sempre o deixarão insatisfeito, frustrado e triste.
II. A NOSSA MÃE A IGREJA recorda‑nos continuamente a necessidade da temperança, que impede que a semente lançada no coração fique sufocada. Temos que estar vigilantes, pois se examinarmos “a orientação que a nossa cultura moderna vai tomando, verificaremos que conduz a um certo hedonismo, à vida fácil, a um certo empenho por eliminar a cruz do nosso horizonte”7. E essa tendência ameaça muitos.
A temperança humaniza o homem, porque, se este se abandona à satisfação dos seus instintos, acaba por parecer‑se com um trem descarrilado: perde o eixo, sai dos trilhos e fica impossibilitado de prosseguir viagem. Nessas circunstâncias, o que é mais nobre no homem – a inteligência e a vontade – fica submetido ao que o é menos: ao instinto e às paixões.
Viver a virtude da temperança não é repressão, mas moderação, harmonia. É um hábito que se adquire por meio de muitos pequenos atos que disciplinam os prazeres, mesmo os lícitos, e orientam os bens sensíveis para o fim último do homem. Quem vive essa virtude “sabe prescindir do que faz mal à sua alma e apercebe‑se de que o sacrifício é apenas aparente, porque, ao viver assim – com sacrifício –, livra‑se de muitas escravidões e no íntimo do seu coração consegue saborear todo o amor de Deus. A vida recupera então os matizes que a intemperança esbate. Ficamos em condições de nos preocuparmos com os outros, de compartilhar com todos as coisas pessoais, de nos dedicarmos a tarefas grandes”8.
Viver bem esta virtude implica andar desprendido dos bens e dar‑lhes a importância que têm e não mais; não criar necessidades; não fazer gastos inúteis; ser moderado na comida, na bebida, no descanso; prescindir de caprichos…
O Senhor pede‑nos que demos exemplo de temperança no meio do mundo, sem nos deixarmos levar pela falsa naturalidade de querer ser como os outros. Transigir neste ponto seria dificultar ou até impedir a possibilidade de seguir Cristo como um dos seus íntimos. Com a nossa vida, temos de mostrar a muitos que “o homem vale mais pelo que é do que pelo que tem”9, e temos de fazê‑lo com o exemplo de uma vida sóbria e temperada. De modo especial, os pais devem ensinar e ajudar os filhos a crescer “numa justa liberdade diante dos bens materiais, adotando um estilo de vida simples e austero”10.
III. A VIRTUDE DA TEMPERANÇA tem que impregnar toda a vida do cristão: desde as comodidades do lar até os instrumentos de trabalho e as maneiras de divertir‑se. Para descansar, por exemplo, não é necessário – geralmente – fazer grandes gastos nem longas viagens. Dá exemplo de temperança aquele que sabe usar moderadamente da televisão e, em geral, dos instrumentos de conforto que a técnica oferece, sem estar excessivamente pendente do seu próprio bem‑estar. Muitos parecem viver exclusivamente para passar a vida rodeados do maior bem‑estar possível.
Nos nossos dias, também se pode dizer de certas pessoas que o seu Deus é o ventre11, pela preocupação que põem nos assuntos da comida e da bebida. Pessoa sóbria é aquela que modera o uso dos alimentos: evita comer fora de horas e por capricho; não procura pratos mais requintados neste ou naquele restaurante, entrando em gastos desproporcionados; não consome quantidades excessivas… “Habitualmente, comes mais do que precisas. – E essa fartura, que muitas vezes te produz lassidão e incomodidade física, torna‑te incapaz de saborear os bens sobrenaturais e entorpece o teu entendimento. – Que boa virtude, mesmo para a terra, é a temperança!”12
Ainda que muitas destas manifestações de gula não sejam pecado grave, no entanto são ofensas a Deus, que debilitam a vontade e acabam por ser uma recusa dessa vida austera, alegre e desprendida que o Senhor pede. São os espinhos que afogam a boa semente; levam a uma vida de tibieza e de desinteresse e apatia pelos bens espirituais e especialmente pelos divinos.
A Igreja dá à sobriedade um valor e sentido mais alto quando nos convida a encarar os alimentos como um dom de Deus e aconselha a bênção à mesa e a ação de graças depois das refeições. São Tomás sublinha que, embora a sobriedade e a temperança sejam necessárias a todos, são‑no de maneira particular aos jovens, pela sua inclinação para a sensualidade; às mulheres; aos anciãos, que devem dar exemplo; aos ministros da Igreja; e aos governantes, para que possam exercer os seus cargos com sabedoria13.
A temperança refere‑se também à moderação da curiosidade, do falar sem medida, das piadas nas conversas… “Penso – afirmava o Papa João Paulo II – que esta virtude exige também de cada um de nós uma humildade específica em relação aos dons que Deus colocou na natureza humana. Eu diria a «humildade do corpo» e a «do coração»”14, que tão bem se compaginam com a rejeição da ostentação e da vaidade néscia.
A temperança é uma grande defesa contra a agressividade de um ambiente polarizado nos bens materiais. Além disso, prepara para receber, como terra boa, as moções do Espírito Santo e é um meio indispensável para levarmos a cabo um apostolado eficaz no meio do mundo.
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