27 de Outubro de 2019

30ª semana comum Domingo

- por Padre Alexandre Fernandes

DOMINGO – XXX SEMANA DO TEMPO COMUM

(Verde, glória, creio – II semana do saltério)

 

Antífona da entrada

 

– Exulte o coração dos que buscam a Deus. Sim, buscai o Senhor e sua força, procurai sem cessar a sua face (Sl 104,3).

 

Oração do dia

 

– Deus eterno e todo-poderoso, aumentai em nós a fé, a esperança e a caridade e dai-nos amar o que ordenais para conseguirmos o que prometeis. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

1ª Leitura: Eclo 35,15-17.20-22

 

– Leitura do livro do Eclesiástico: 15bO Senhor é um juiz que não faz discriminação de pessoas. 16Ele não é parcial em prejuízo do pobre, mas escuta, sim, as súplicas dos oprimidos; 17jamais despreza a súplica do órfão, nem da viúva, quando desabafa suas mágoas. 20Quem serve a Deus como ele o quer, será bem acolhido e suas súplicas subirão até as nuvens. 21A prece do humilde atravessa as nuvens: enquanto não chegar não terá repouso; e não descansará até que o Altíssimo intervenha, 22afaça justiça aos justos e execute o julgamento.

 

– Palavra do Senhor.

– Graças a Deus.

 

Salmo Responsorial: Sl 34,2-3.17-18.19.23 (R: 7a23a)

 

– O pobre clama a Deus e ele escuta: o Senhor liberta a vida dos seus servos.
R: O pobre clama a Deus e ele escuta: o Senhor liberta a vida dos seus servos.

– Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo, seu louvor estará sempre em minha boca. Minha alma se gloria no Senhor; que ouçam os humildes e se alegrem!

 

R: O pobre clama a Deus e ele escuta: o Senhor liberta a vida dos seus servos.
– Mas ele volta a sua face contra os maus, para da terra apagar sua lembrança. Clamam os justos, e o Senhor bondoso escuta e de todas as angústias os liberta.

R: O pobre clama a Deus e ele escuta: o Senhor liberta a vida dos seus servos.

– Do coração atribulado ele está perto e conforta os de espírito abatido. Mas o Senhor liberta a vida dos seus servos, e castigado não será quem nele espera.

R: O pobre clama a Deus e ele escuta: o Senhor liberta a vida dos seus servos.

2ª Leitura: 2Tm  4,6-8.16-18

 

– Leitura da segunda carta de são Paulo a Timóteo: Caríssimo: 6Quanto a mim, eu já estou para ser oferecido em sacrifício; aproxima-se o momento de minha partida. 7Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. 8Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor a sua manifestação gloriosa. 16Na minha primeira defesa, ninguém me assistiu; todos me abandonaram. Oxalá que não lhes seja levado em conta.
17Mas o Senhor esteve a meu lado e me deu forças; ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente, e ouvida por todas as nações; e eu fui libertado da boca do leão. 18O Senhor me libertará de todo mal e me salvará para o seu Reino celeste. A ele a glória, pelos séculos dos séculos! Amém.

 

– Palavra do Senhor.

– Graças a Deus.

 

Aclamação ao santo Evangelho

 

Aleluia, aleluia, aleluia.

Aleluia, aleluia, aleluia.

 

– O Senhor reconciliou o mundo em Cristo, confiando-nos sua Palavra; a Palavra da reconciliação, a Palavra que hoje, aqui, nos salva (2Cor 5,19).

 

Aleluia, aleluia, aleluia.

 

Evangelho de Jesus Cristo, segundo Lucas: Lc 18,9-14

 

– O Senhor esteja convosco.

– Ele está no meio de nós.

– Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo † segundo Lucas

– Glória a vós, Senhor!   

 

– Naquele tempo, 9Jesus contou esta parábola para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros: 10“Dois homens subiram ao Templo para rezar: um era fariseu, o outro cobrador de impostos. 11O fariseu, de pé, rezava assim em seu íntimo: ‘Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. 12Eu jejuo duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda’. 13O cobrador de impostos, porém, ficou a distância, e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: ‘Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!’ 14Eu vos digo: este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado”.

 

– Palavra da salvação.

– Glória a vós, Senhor!   

São Gonçalo de Lagos

- por Padre Alexandre Fernandes

Dedicou-se à uma vida de jejuns e penitências enquanto aplicava-se às letras e aos estudos

Este santo português nasceu em Lagos, no Algarve, por volta do ano de 1370. Tomou o hábito de Santo Agostinho no convento da Graça, em Lisboa, aos 20 anos.

Dedicou-se à uma vida de jejuns e de penitências enquanto aplicava-se às letras, aos estudos. Homem zeloso na vivência da Regra Religiosa, virtuoso e cheio de pureza, Gonçalo dedicou-se também à pregação chegando a ser superior de alguns mosteiros da sua Ordem.

O último mosteiro foi o de Torres Vedras, onde morreu em 1422, depois de exortar aos que viviam com ele no mosteiro à observância religiosa e à uma vida virtuosa.

São Gonçalo de Lagos, rogai por nós!

FONTE: Canção Nova

 

 

Meditação

- por Padre Alexandre Fernandes

A ORAÇÃO VERDADEIRA

– Necessidade da oração.

– Oração humilde e confiante. Parábola do fariseu e do publicano.

– Fidelidade à oração. Dificuldades.

I. A ORAÇÃO É novamente, neste domingo, o tema do Evangelho da Missa1. Jesus começa a parábola do publicano e do fariseu insistindo em que é preciso orar sempre2. Nos seus ensinamentos, as referências mais freqüentes – além da fé e da caridade – dizem respeito à oração. O Mestre quer dizer-nos de muitas maneiras que a oração é absolutamente necessária para segui-lo e para empreender qualquer tarefa cujo valor permaneça para além desta vida passageira.

Nos começos do seu Pontificado, o Papa João Paulo II declarava: “A oração é para mim a primeira tarefa e como que o primeiro anúncio; é a primeira condição do meu serviço à Igreja e ao mundo”. E acrescentava: “Todos os fiéis devem considerar sempre a oração como a obra essencial e insubstituível da sua vocação, o opus divinum que antecede – como o cume de todo o seu viver e agir – qualquer tarefa. Sabemos bem que a fidelidade à oração ou o seu abandono são a prova da vitalidade ou da decadência da vida religiosa, do apostolado, da fidelidade cristã”3. Sem oração, não poderíamos seguir o Senhor no meio do mundo. É-nos tão indispensável como o alimento ou a respiração para a vida do corpo.

Poucos dias antes, o Pontífice recordava que um perigo para os sacerdotes, mesmo zelosos, “é submergirem-se de tal maneira no trabalho do Senhor, que se esqueçam do Senhor do trabalho”4. É um perigo para todo o cristão, pois nada vale a pena – nem sequer o apostolado mais extraordinário que se possa imaginar – se se faz à custa do trato com o Senhor, pois no fim tudo seria estéril; teríamos levado a cabo uma obra puramente humana. O remédio para esse perigo não consiste em abandonar o trabalho ou a tarefa apostólica, mas em “criar o tempo para estar com o Senhor na oração”5, que “hoje como ontem é imprescindível”6.

Examinemos hoje se a nossa oração, o nosso trato diário com Jesus, vivifica o nosso trabalho, a vida familiar, a amizade, o apostolado… Sabemos muito bem que tudo é diferente quando primeiro falamos com o Mestre. É na oração que o Senhor “dá luzes para entender as verdades”7. E sem essa luz, caminhamos às escuras. Com ela, penetramos nos mistérios de Deus e da vida.

II. A FINALIDADE DA PARÁBOLA que hoje lemos no Evangelho da Missa é distinguir a piedade autêntica da falsa. A oração verdadeira atravessa as nuvens do céu, conforme lemos na primeira Leitura8: sobe até Deus e desce cheia de frutos.

Antes de narrar a parábola, São Lucas preocupa-se em mencionar que Jesus falava a uns que confiavam em si mesmos, como se fossem justos, e desprezavam os outros. O Senhor fala de dois personagens bem conhecidos de todos os ouvintes: Subiram dois homens ao templo para orar: um fariseu e outro publicano. Não demoramos a perceber que, embora ambos tenham ido ao Templo com a mesma finalidade, um deles não fez oração. Não fala com Deus num diálogo amoroso, mas consigo próprio. Na sua oração, não há amor, como também não há humildade. Está de pé, dá graças pelo que faz, mostra-se satisfeito. Compara-se com os outros e considera-se mais justo, melhor cumpridor da Lei. Parece não necessitar de Deus.

O publicano “ficou longe, e por isso Deus aproximou-se dele mais facilmente. Não se atrevendo a levantar os olhos ao céu, tinha já consigo Aquele que fez os céus… Que o Senhor esteja longe ou não, depende de ti. Ama e se aproximará”9. E estará atentíssimo, como nunca ninguém o esteve, a tudo aquilo que queiramos dizer-lhe com a simplicidade de quem se reconhece pecador. O publicano conquistou a Deus pela sua humildade, pois Ele resiste aos soberbos e dá a sua graça aos humildes10.

Efetivamente, a humildade é o fundamento do nosso trato com Deus. O Senhor deseja que oremos como filhos pobres e sempre necessitados da sua misericórdia, e que fujamos da auto-suficiência, da complacência nas nossas virtudes ou nos aparentes ou possíveis frutos apostólicos, como também das atitudes negativas, pessimistas, que refletem falta de confiança na graça de Deus, e que freqüentemente são manifestações de uma soberba oculta. A oração humilde é sempre um tempo de alegria, de confiança e de paz.

“Deus gosta – ensina Santo Afonso M. de Ligório – de que trateis familiarmente com Ele. Tratai com Ele dos vossos assuntos, dos vossos projetos, dos vossos trabalhos, dos vossos temores e de tudo o que vos interesse. Fazei-o com confiança e com o coração aberto, porque Deus não costuma falar à alma que não lhe fala”11. Mas falemos-lhe com a simplicidade da humildade.

III. PREPAREMOS com especial esmero os tempos que dedicamos à oração, “estando a sós com quem sabemos que nos ama”12, pois dela tiraremos forças para santificar os nossos afazeres diários, para converter em graça as contrariedades e para vencer todas as dificuldades. A nossa fortaleza está na proporção do nosso trato com o Senhor.

Ao começá-la, “é necessário preparar o coração para esse santo exercício, que é como quem afina a viola para tangê-la”13. Nesta preparação, ajuda-nos muito termos oferecido o nosso trabalho ao Senhor ao longo do dia, com breves momentos de recolhimento interior…, e, no instante em que a começamos, fazermos um ato de presença de Deus que melhore esse recolhimento e nos introduza no diálogo com Deus. Será normalmente uma breve oração vocal que já de per si nos dará matéria para conversar com o Senhor. Pode, por exemplo, ser muito útil recitarmos devagar palavras como estas: Meu Senhor e meu Deus, creio firmemente que estás aqui, que me vês, que me ouves. Adoro-te com profunda reverência, peço-te perdão dos meus pecados e graça para fazer com fruto este tempo de oração. E este sentirmo-nos junto do Senhor já é oração. A partir daí, Ele entende-nos e nós o entendemos. Pedimos-lhe, e Ele pede-nos: mais generosidade, mais amor, mais luta…

Não devemos preocupar-nos se algumas vezes – ou sempre! – não experimentamos nenhum sentimento especial na oração. “Para quem se empenha seriamente em fazer oração, virão tempos em que lhe parecerá vaguear por um deserto e, apesar de todos os esforços, não sentir nada de Deus. Deve saber que essas provas não são poupadas a ninguém que tome a oração a sério […]. Nesses períodos, deve esforçar-se firmemente por manter a oração, que, ainda que possa dar-lhe a impressão de um certo artificialismo, é na realidade algo completamente distinto: é precisamente nessa altura que a oração constitui uma expressão da sua fidelidade a Deus, na presença do qual quer permanecer mesmo que não seja recompensado por nenhuma consolação subjetiva”14. Muitos dos dias em que, com toda a nossa luta por estar com o Senhor, nos pareceu termos passado o tempo sem obter fruto algum, talvez tenham representado aos olhos de Deus uma oração esplêndida. O Senhor sempre nos recompensa com a sua paz e as suas forças para empreendermos as batalhas que tenhamos pela frente.

Não deixemos nunca a oração. “Outra coisa não me parece perder o caminho – escreve Santa Teresa, com a sua habitual clareza – senão abandonar a oração”15. Em não poucas ocasiões, pode ser a tentação mais grave que venha a sofrer uma alma que decidiu seguir o Senhor de perto: abandonar esse diálogo diário com Ele porque pensa que não tira fruto algum, porque considera mais importantes outras coisas, até tarefas apostólicas, quando nada é mais importante do que esse encontro diário em que Jesus nos espera. “A todo o custo – escreve um autor espiritual – deve-se tomar e cumprir inflexivelmente a determinação de perseverar em dedicar todos os dias um tempo conveniente à oração privada. Pouco importa se não se pode fazer outra coisa senão permanecer de joelhos durante esse tempo e combater as distrações com absoluta falta de êxito: não se está perdendo o tempo”16. Pelo contrário, não existe tempo melhor empregado do que aquele que “perdemos” junto do Senhor.

Peçamos hoje a Nossa Senhora que nos ensine a tratar o seu Filho como Ela o tratou em Nazaré e durante os anos de vida pública. E façamos o propósito de não cometer a tolice de abandonar a oração e de não consentir em distrações nesse tempo em que o Senhor nos olha e nos escuta com tanta solicitude.

(1) Lc 18, 9-14; (2) cfr. Lc 18, 1; (3) João Paulo II, Alocução, 7.10.79; (4) João Paulo II, Alocução em Maynooth (Irlanda), 1.10.79; (5) ibid.; (6) João Paulo II, Alocução em Guadalupe, México, 27.01.79; (7) Santa Teresa, Fundações, 10, 13; (8) Eclo 35, 19; (9) Santo Agostinho, Sermão 9, 21; (10) Ti 4, 6; (11) Santo Afonso Maria de Ligório, Como conversar continua e familiarmente com Deus, em Obras ascéticas, vol. I, págs. 316-317; (12) Santa Teresa, Vida, 8, 2; (13) São Pedro de Alcântara, Tratado sobre a oração e a meditação, I, 3; (14) Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, Sobre alguns aspectos da meditação cristã, 15.10.89, n. 30; (15) Santa Teresa, Vida, 19, 5; (16) Eugene Boylan, Amor sublime, vol. II, pág. 141.

 

           

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