12 de Fevereiro de 2020
5a Semana Comum Quarta-feira
- por Padre Alexandre Fernandes
QUARTA-FEIRA DA V SEMANA DO TEMPO COMUM
(cor verde – ofício do dia)
Antífona da entrada
– Entrai, inclinai-vos e prostrai-vos: adoremos o Senhor que nos criou, pois ele é o nosso Deus (Sl 94,6).
Oração do dia
– Velai, ó Deus, sobre a vossa família com incansável amor; e, como só confiamos na vossa graça, guardai-nos sob a vossa proteção. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
1ª Leitura: 1 Rs 10,1-10
– Leitura do primeiro livro dos Reis: 1Naqueles dias, a rainha de Sabá, tendo ouvido falar – para a glória do Senhor – da fama de Salomão, veio prová-lo com enigmas. 2Chegou a Jerusalém com numerosa comitiva, com camelos carregados de aromas, e enorme quantidade de ouro e pedras preciosas. Apresentou-se ao rei Salomão e expôs-lhe tudo o que tinha em seu pensamento. 3Salomão soube responder a todas as suas perguntas: para ele nada houve tão obscuro que não pudesse esclarecer. 4Quando a rainha de Sabá viu toda a sabedoria de Salomão, a casa que tinha construído, 5os manjares da sua mesa, os cortesãos sentados em ordem à mesa, as diversas classes dos que o serviam e suas vestes, os copeiros, os holocaustos que ele oferecia no templo do Senhor, ficou pasmada e disse ao rei: 6“Realmente era verdade o que eu ouvi no meu país a respeito de tuas palavras e de tua sabedoria! 7Eu não queria acreditar no que diziam, até que vim e vi com os meus próprios olhos, e reconheci que não me tinham dito nem a metade. Tua sabedoria e tua riqueza são muito maiores do que a fama que chegara aos meus ouvidos. 8Feliz a tua gente, felizes os teus servos que gozam sempre da tua presença e que ouvem a tua sabedoria! 9Bendito seja o Senhor, teu Deus, a quem agradaste, que te colocou sobre o trono de Israel, porque o Senhor amou Israel para sempre, e te constituiu rei para governares com justiça e equidade”. 10Depois, ela deu ao rei cento e vinte talentos de ouro e grande quantidade de aromas e pedras preciosas. Nunca mais foi trazida tanta quantidade de aromas como a que a rainha de Sabá deu ao rei Salomão.
– Palavra do Senhor.
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 37,5-6.30-31.39-40 (R: 30a)
– O justo tem nos lábios o que é sábio.
R: O justo tem nos lábios o que é sábio.
– Deixa aos cuidados do Senhor o teu destino; confia nele, e com certeza ele agirá. Fará brilhar tua inocência como a luz, e o teu direito, como o sol do meio-dia.
R: O justo tem nos lábios o que é sábio.
– O justo tem nos lábios o que é sábio, sua língua tem palavras de justiça; traz a Aliança do seu Deus no coração, e seus passos não vacilam no caminho.
R: O justo tem nos lábios o que é sábio.
– A salvação dos piedosos vem de Deus; ele os protege nos momentos de aflição. O Senhor lhes dá ajuda e os liberta, defende-os e protege-os contra os ímpios, e os guarda porque nele confiaram.
R: O justo tem nos lábios o que é sábio.
Aclamação ao santo Evangelho.
Aleluia, aleluia, aleluia.
Aleluia, aleluia, aleluia.
– Vossa palavra é a verdade; santificai-nos na verdade! (Jo 17,17)
Aleluia, aleluia, aleluia.
Evangelho de Jesus Cristo, segundo Marcos: Mc 7,14-23
– O Senhor esteja convosco.
– Ele está no meio de nós.
– Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo † segundo Marcos.
– Glória a vós, Senhor!
– Naquele tempo, 14Jesus chamou a multidão para perto de si e disse: “Escutai todos e compreendei: o que torna impuro o homem não é o 15que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior. 16Quem tem ouvidos para ouvir ouça”. 17Quando Jesus entrou em casa, longe da multidão, os discípulos lhe perguntaram sobre essa parábola. Jesus lhes disse: 18“Será que nem vós compreendeis? Não entendeis que nada do que vem de fora e entra numa pessoa pode torná-la impura, 19porque não entra em seu coração, mas em seu estômago e vai para a fossa?” 20Assim Jesus declarava que todos os alimentos eram puros. Ele disse: “O que sai do homem, isso é que o torna impuro. 21Pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções, 22imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo. 23Todas estas coisas más saem de dentro e são elas que tornam impuro o homem”.
– Palavra da salvação.
– Glória a vós, Senhor!
Santa Eulália
- por Padre Alexandre Fernandes
Virgem e mártir, viveu no século III em Barcelona. Educada e muito bem formada pela sua família cristã, desde pequena ela buscou o relacionamento com Deus e a fuga do pecado. Era uma pessoa muito sociável, gostava de brincar com as amigas da mesma idade, mas sempre fugia da vaidade.
Santa Eulália amava Jesus Cristo acima de tudo e O amou em todos os momentos, inclusive na dor. Aconteceu que, por parte do terrível Deocleciano, a perseguição aos cristãos chegou na Espanha. Os pais da santa decidiram viajar para fugir dessa perseguição, mas Eulália foi até o governador a fim de denunciar, com a sua pouca idade, a injustiça que estava sendo cometida contra os cristãos. O governador, diante daquela ousadia, quis que ela apostatasse da fé, ou seja, que adorasse outros deuses para que ficasse livre do sofrimento. No entanto, ela deixou claro que o seu Senhor, o Rei dos reis, o Senhor de todos os dominadores, é Jesus Cristo.
O ódio daquele governador e a maldade contra uma menina, fez com que ela fosse queimada com ferro e fogo, mas, durante tanto sofrimento, o seu testemunho era este: “Agora, vejo em mim as marcas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo”.
Para nós, hoje, ela é um exemplo de ousadia. Com pouca idade, com muito amor e uma fé adulta, não renunciou a Jesus em meio ao sofrimento. Ela morreu queimada, mas antes, cheia do fogo de Deus. Por isso, se encontra na glória a interceder por todos nós para que a nossa vida cristã busque, constantemente, a santidade na alegria e na paz, mas também no sofrimento e na perseguição. É momento de reconhecer que a nossa força é o Espírito Santo.
Santa Eulália, rogai por nós!
Meditação
- por Padre Alexandre Fernandes
39. A DIGNIDADE DO TRABALHO
– O mandamento divino do trabalho não é um castigo, mas uma bênção; faz-nos participar do poder criador de Deus. O cansaço e a fadiga devem ajudar-nos a ser corredentores com Cristo.
– Prestígio profissional. A preguiça, o grande inimigo do trabalho.
– Virtudes do trabalho bem realizado.
I. DEPOIS QUE DEUS criou a terra e a enriqueceu com todo o tipo de bens, tomou o homem e colocou-o no paraíso de delícias para que o cultivasse e guardasse1, isto é, para que o trabalhasse. O Senhor, que tinha feito o homem à sua imagem e semelhança2, quis também que ele participasse do seu poder criador, transformando a matéria, descobrindo os tesouros que ela encerra e plasmando a beleza mediante as obras das suas mãos. O trabalho nunca foi um castigo, mas, pelo contrário, “uma dignidade de vida e um dever imposto pelo Criador, já que o homem foi criado ut operaretur, para trabalhar. O trabalho é um meio pelo qual o homem se torna participante da criação e, portanto, não só é digno, seja qual for, mas é instrumento para se conseguir a perfeição humana – terrena – e a perfeição sobrenatural”3.
Este preceito divino existia antes de os nossos primeiros pais terem pecado. O pecado original acrescentou ao trabalho a fadiga e o cansaço, mas o trabalho em si continua a ser nobre, digno, por ser participação no poder criador de Deus, ainda que “agora se faça acompanhar de penas e sofrimentos, de infecundidade e cansaço. Continua a ser um dom divino e uma tarefa que deve ser realizada sob condições penosas, tal como o mundo continua a ser o mundo de Deus, mas um mundo em que já não se distingue com clareza a voz divina”4.
Com a Redenção, os aspectos penosos do trabalho ganharam um valor santificador para quem o exerce e para toda a humanidade. O suor e a fadiga, oferecidos com amor, tornam-se tesouros de santidade, pois o trabalho feito por amor a Deus representa a participação humana, não só na obra da Criação, mas também na da Redenção.
Todo o trabalho implica uma quota-parte de fadiga e de preocupação que podemos oferecer ao Senhor em expiação das culpas humanas. Aceitar com humildade essa parte de esforço, que mesmo a melhor organização trabalhista não consegue eliminar, significa colaborar com Deus na purificação da nossa inteligência, da nossa vontade e dos nossos sentimentos5.
Examinemos hoje na nossa oração se oferecemos ao Senhor a fadiga e o cansaço por fins nobremente ambiciosos. Averigüemos se, nesses aspectos menos agradáveis de qualquer trabalho, encontramos a mortificação cristã que nos purifica e que nos permite oferecê-lo pelos outros.
II. O TRABALHO É UM TALENTO que o homem recebe para fazer frutificar, e “é testemunho da dignidade do homem, do seu domínio sobre a criação; é meio de desenvolvimento da personalidade; é vínculo de união com os outros seres; fonte de recursos para o sustento da família; meio de contribuir para o progresso da sociedade em que se vive e para o progresso de toda a humanidade”6. Para o cristão, é, além disso, ocasião de um encontro pessoal com Jesus Cristo e meio para que todas as realidades deste mundo sejam vivificadas pelo espírito do Evangelho.
Para que “o homem se faça mais homem”7 com o trabalho, para que este seja meio e ocasião de amar a Cristo e de fazer com que o conheçam, são necessárias diversas condições humanas: a diligência, a constância, a pontualidade…, a competência profissional. Em sentido contrário, o pouco interesse por aquilo que se realiza, a incompetência, a impontualidade e as ausências no trabalho… são incompatíveis com o sentido autenticamente cristão da vida. O trabalhador negligente ou desinteressado, seja qual for o posto que ocupe na sociedade, ofende em primeiro lugar a própria dignidade da sua pessoa e a daqueles a quem se destinam os frutos dessa tarefa mal feita. E ofende ainda a sociedade em que vive, pois nela repercute de alguma forma todo o mal e todo o bem dos indivíduos. Além disso, o trabalho realizado descuidadamente, com atrasos e mal acabado, não é uma falta ou um pecado apenas contra a virtude da justiça, mas também contra a caridade, pelo mau exemplo e pelas conseqüências que derivam dessa atitude.
O grande inimigo do trabalho é a preguiça, que se manifesta de muitas maneiras. Não é preguiçoso somente aquele que deixa o tempo passar sem fazer nada, mas também aquele que se dedica a muitas coisas, mas foge da sua obrigação concreta: escolhe as suas ocupações de acordo com o gosto do momento, realiza-as sem energia, e qualquer pequena dificuldade é suficiente para que mude de tarefa. O preguiçoso costuma ser amigo dos “começos”, mas a repugnância que sente pelo sacrifício de um trabalho contínuo e profundo impede-o de pôr as “últimas pedras”, de acabar bem o que começou.
Se queremos imitar Jesus Cristo, devemos esforçar-nos por adquirir uma preparação profissional adequada, dando-lhe continuidade nos anos de exercício da nossa profissão ou ofício. A mãe de família que se dedica aos seus filhos deve saber cuidar do lar, ser boa administradora dos recursos e dos bens domésticos: manter a casa agradável, arrumada com bom gosto mais do que com luxo, para que toda a família se sinta bem; conhecer o caráter dos filhos e do marido, e saber, quando chegue a ocasião, como falar-lhes daquelas questões difíceis em que podem corrigir-se e melhorar; deve ser forte e ao mesmo tempo doce e simples. Deverá conduzir essa tarefa com mentalidade profissional, sujeitando-se a um horário fixo, não perdendo o tempo em conversas intermináveis, evitando ligar a televisão nas horas em que não deve…
O estudante, se quiser ser um bom cristão, deve ser bom estudante: assistindo às aulas, tendo as matérias em dia, aprendendo a distribuir o tempo que dedica a cada matéria. Devem ser igualmente competentes o arquiteto, a secretária, a costureira, o empresário… “O cristão que falha nas suas obrigações temporais – ensina o Concílio Vaticano II –, falha nos seus deveres para com o próximo; falha, sobretudo, nas suas obrigações para com Deus e põe em perigo a sua salvação eterna”8; errou de caminho numa matéria essencial e, se não muda, estará impossibilitado de encontrar a Deus.
Olhemos para Jesus enquanto realiza o seu trabalho na oficina de José e perguntemo-nos hoje se somos conhecidos no nosso ambiente pelo esmero com que trabalhamos.
III. O PRESTÍGIO PROFISSIONAL é conquistado dia após dia, num trabalho silencioso, cuidado até o menor detalhe, feito conscientemente, na presença de Deus, sem dar muita importância a que seja visto ou não pelos homens. Este prestígio na própria profissão, ofício ou estudo, tem repercussões imediatas nos colegas e amigos, pois a palavra com que tratamos de aproximá-los de Deus passará a ter peso e autoridade, e o nosso exemplo de um trabalho profissional competente os ajudará a melhorar nas suas tarefas. A profissão converte-se assim num pedestal de Cristo, que permite avistá-lo mesmo de longe.
Com o prestígio profissional, o Senhor pede-nos outras virtudes: o espírito de serviço amável e sacrificado, a simplicidade e a humildade para ensinar, a serenidade para não converter a atividade intensa em ativismo e saber deixar as tarefas e as preocupações de lado quando chega o momento de dedicar uns minutos à oração ou de cuidar da família e escutar a mulher, o marido, os filhos, os pais, os amigos…
Se o trabalho ocupasse o dia de tal maneira que invadisse esses momentos que se devem dedicar a Deus, à família, à formação religiosa, aos amigos…, seria um sintoma claro de que não nos estamos santificando, mas de que nos estamos buscando a nós mesmos. Seria mais uma forma de corrupção desse “dom divino”, uma deformação talvez mais perigosa na nossa época, pelas próprias exigências desfocadas em que se baseiam muitas ocupações. Um cristão corrente e normal não pode esquecer nunca que deve encontrar Cristo no meio e através dos seus afazeres, sejam quais forem.
Peçamos a São José que nos ensine as virtudes fundamentais que devemos viver no exercício da nossa profissão. “José devia tirar muita gente de dificuldades, com um trabalho bem acabado. O seu trabalho profissional era uma ocupação orientada para o serviço, tinha em vista tornar mais grata a vida das outras famílias da aldeia; e far-se-ia acompanhar de um sorriso, de uma palavra amável, de um comentário dito como que de passagem, mas que devolve a fé e a alegria a quem está prestes a perdê-las”9. Perto de José, encontraremos Maria.
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