Parte III – A Missa é o memorial do mistério Pascal de Cristo
Prosseguindo com as catequeses sobre a Missa, podemos nos perguntar: o que é essencialmente a Missa? A Missa é o memorial do Mistério pascal de Cristo. Essa nos torna partícipes da sua vitória sobre o pecado e a morte e dá significado pleno à nossa vida.
Por isso, para compreender o valor da Missa, devemos, antes de tudo, entender então o significado bíblico do “memorial”. Esse “não é somente a recordação dos acontecimentos do passado, mas os torna, de certo modo, presentes e atuais. Precisamente assim Israel entende a sua libertação do Egito: toda vez que é celebrada a Páscoa, os acontecimentos do êxodo tornam-se presentes na memória dos crentes a fim de que conformem a esses a própria vida” (Catecismo da Igreja Católica, 1363). Jesus Cristo, com a sua paixão, morte, ressurreição e ascensão ao céu levou à realização a Páscoa. E a Missa é o memorial da sua Páscoa, do seu “êxodo”, que realizou por nós, para nos fazer sair da escravidão e nos introduzir na terra prometida da vida eterna. Não é somente uma recordação, não, é mais: é fazer presente aquilo que aconteceu vinte séculos atrás.
A Eucaristia nos leva sempre ao ápice da ação de salvação de Deus: o Senhor Jesus, fazendo-se pão partido por nós, derrama sobre nós toda a sua misericórdia e o seu amor, como fez na cruz, de forma a renovar o nosso coração, a nossa existência e o nosso modo de nos relacionarmos com Ele com os irmãos. Diz o Concílio Vaticano II: “Toda vez que o sacrifício da cruz, com o qual Cristo, nosso cordeiro pascal, foi imolado, é celebrado sobre o altar, se realiza a obra da nossa redenção” (Lumen gentium, 3).
Cada celebração da Eucaristia é um raio daquele sol sem ocaso que é Jesus Cristo ressuscitado. Participar da Missa, em particular aos domingos, significa entrar na vitória do Ressuscitado, ser iluminados pela sua luz, aquecidos pelo seu calor. Através da celebração eucarística o Espírito Santo nos torna partícipes da vida divina que é capaz de transfigurar todo o nosso ser mortal. E na sua passagem da morte à vida, do tempo à eternidade, o Senhor Jesus nos leva com Ele para fazer a Páscoa. Na Missa se faz Páscoa. Nós, na Missa, estamos com Jesus, morto e ressuscitado e Ele nos leva para frente, para a vida eterna. Na Missa nos unimos a Ele. Ou melhor, Cristo vive em nós e nós vivemos n’Ele. “Fui crucificado com Cristo – diz São Paulo – e não vivo mais eu, mas Cristo vive em mim. E esta vida, que eu vivo no corpo, a vivo na fé do Filho de Deus, que me amou e entregou a si mesmo por mim” (Gal 2,19-20). Assim pensava Paulo.
O seu sangue, de fato, nos liberta da morte e do medo da morte. Liberta-nos não somente do domínio da morte física, mas da morte espiritual que é o mal, o pecado que nos pega toda vez que caímos vítimas do pecado nosso ou dos outros. E então a nossa vida se torna poluída, perde a beleza, perde o significado, esmorece.
Cristo em vez disso, nos dá vida; Cristo é a plenitude da vida e quando enfrentou a morte a derrotou para sempre: “Ressuscitando destruiu a morte e renovou a vida” (Oração eucarística VI). A Páscoa de Cristo é a vitória definitiva sobre a morte, porque Ele transformou a sua morte em supremo ato de amor. Morreu por amor! E na Eucaristia, Ele quer nos comunicar este seu amor pascal, vitorioso. Se o recebemos com fé, também nós podemos amar verdadeiramente Deus e o próximo, podemos amar como Ele nos amou, dando a vida.
Se o amor de Cristo está em mim, posso doar-me plenamente ao outro, na certeza interior de que mesmo que o outro me fira, eu não morrerei; caso contrário, deveria defender-me. Os mártires deram a vida propriamente por essa certeza da vitória de Cristo sobre a morte. Somente se experimentamos este poder de Cristo, o poder do seu amor, somos verdadeiramente livres de nos doarmos sem medo. Isso é a Missa: entrar nesta paixão, morte, ressurreição, ascensão de Jesus; quando vamos à Missa é como se fôssemos ao calvário, o mesmo. Mas pensem: se nós no momento da Missa vamos ao calvário – pensemos com imaginação – e sabemos que aquele homem ali é Jesus. Mas, nós nos permitiremos ficar conversando, tirar fotografias, fazer um pouco o espetáculo? Não! Porque é Jesus! Nós, certamente, estaremos em silêncio, no choro, e também na alegria de sermos salvos. Quando nós entramos na Igreja para celebrar a Missa, pensemos isto: entro no calvário, onde Jesus dá a sua vida por mim. E assim desaparece o espetáculo, desaparecem as conversas, os comentários, e estas coisas que nos distanciam disto que é tão bonito que é a Missa, o triunfo de Jesus.
Penso que agora seja claro como a Páscoa se torna presente e operante toda vez que celebramos a Missa, isso é, o sentido do memorial. A participação na Eucaristia nos faz entrar no mistério pascal de Cristo, permitindo-nos passar com Ele da morte à vida, isso é, ali no calvário. A Missa é refazer o calvário, não é um espetáculo.
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