Julho: dedicado ao Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor
A Igreja dedica todo o mês de julho ao amor e adoração do Preciosíssimo Sangue de nosso Salvador Jesus. É justo que nós adoremos na santa humanidade de Cristo, com um culto especial, aquelas partes que são mais significativas de algum mistério ou perfeição divina; e assim honramos:
• SEU CORAÇÃO: para prestar culto ao seu amor infinito;
• SUAS CHAGAS: para prestar culto a suas dores e sua paixão;
• SEU SANGUE: para prestar culto ao preço de nossa Redenção.
O nosso amantíssimo Redentor não veio ao mundo para outro fim, senão para salvar os pecadores. Por isso não se contentou com pagar pela sua morte a pena a nós devida e anular com o seu sangue a sentença da nossa eterna condenação (1); mas com o mesmo sangue quis ainda preparar-nos um banho salutar para nos limparmos das manchas dos nossos pecados: Dilexit nos, et lavit nos in sanguine suo (2) — “Ele nos amou e lavou em seu sangue”. — E isso não somente uma vez, senão quantas quisermos; porquanto, prevendo que, depois do Batismo, tornaríamos a manchar-nos pelo pecado, estabeleceu, por meio do sacramento da penitência, que aquele banho durasse até à consumação dos séculos.
Pelo que o Apóstolo nos anima dizendo: Accessistis… ad mediatorem Iesum, et sanguinis aspersionem, melius loquentem quam Abel (3) — “Chegastes… ao mediador Jesus, e à aspersão do sangue, que fala melhor que o de Abel”. Meus irmãos, assim parece dizer-nos, por mais pecadores que sejais, não percais a coragem; pois tendes de tratar, não com um mediador qualquer, mas com Jesus Cristo. Se o sangue dos bodes e dos touros sacrificados tirava aos Hebreus as manchas corporais exteriores, a fim de que pudessem ser admitidos aos ministérios sagrados; quanto mais o sangue de Jesus Cristo, que por amor se ofereceu a pagar por nós, tirará das nossas almas os pecados para podermos servir ao nosso Deus? (4)
Ah! Quanto melhor, conclui São Paulo, o sangue do Redentor implora por nós a divina misericórdia, do que o sangue de Abel bradava por vingança contra Caim! — É o que o Senhor mesmo disse também a Santa Maria Madalena de Pazzi: “A minha justiça converteu-se em clemência pela vingança tomada no corpo inocente de Jesus Cristo. O sangue deste meu Filho não pede vingança, como o sangue de Abel, mas somente misericórdia e piedade, e à tal voz a minha justiça fica necessariamente aplacada. Este sangue liga-me, por assim dizer, as mãos, de modo que não posso mais movê-las para tomar vingança dos pecados, como antes tomavam.”
Como fruto da presente meditação nutramos uma terna devoção ao sangue divino. Cada vez que meditares na Paixão de Jesus Cristo, chega-te a Ele em espírito e pede-Lhe que te purpureie todo com o seu preciosíssimo sangue. No tribunal da penitência, afigura-te ver no Confessor a própria pessoa do Redentor, que na absolvição derrama sobre ti o seu sangue; e quando fores comungar, imagina que chegas teus lábios ao lado sagrado de Jesus. Sobretudo habitua-te a oferecer muitas vezes ao Eterno Pai o sangue preciosíssimo de Jesus Cristo, em satisfação pelos teus pecados, pelas necessidades da santa Igreja, pela conversão dos pecadores e em sufrágio das almas do purgatório.
† “Ó Sangue preciosíssimo de vida eterna, mercê e resgate de todo o universo, bebida e lavacro de nossas almas, que defendeis continuamente a causa dos homens junto ao trono da suprema misericórdia, adoro-vos profundamente, e quisera, quanto me é possível, desagravar-vos de todas as injúrias e desprezos que continuais a receber da parte dos homens, e particularmente daqueles que temerariamente se atrevem a blasfemar contra vós. Quem não bendirá esse Sangue de infinito valor: quem não se sentirá abrasado de amor a Jesus, que o derramou? Que seria de mim, se não fora remido por esse Sangue divino? Quem vos fez correr até à última gota das veias de meu Senhor? Ah! Foi certamente o amor. Ó amor imenso que nos deu este bálsamo tão salutar! Ó bálsamo inestimável, brotado da fonte de um amor imenso! Fazei, ah! Fazei que todos os corações, todas as línguas vos louvem, exaltem e agradeçam agora e sempre, até ao dia da eternidade.” (5)
“E Vós, Eterno Pai, que destinastes para Redentor do mundo vosso Filho unigênito e quisestes ser aplacado pelo seu sangue: suplico-Vos, concedei-me que, enquanto estiver aqui na terra, eu venere solenemente esse preço de nossa salvação, e seja por ele de tal modo livrado de todos os males da vida presente, que mereça gozar eternamente os seus frutos no céu.” (6) Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Cristo e de Maria Santíssima. (*I 587.)
Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I – Santo Afonso
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